sábado, outubro 14, 2023

Sábado, 14.

Ontem estive duas horas a ler e a reler o final da primeira parte do romance. O que lia não me agradava, modificava uma palavra aqui outra mais adiante, o grosso do tempo era escoado a pensar, a esperar que algo tombasse do céu ou subido do inferno. Por fim, lembrei que na minha adolescência, as famílias que viviam na Foz do Douro nas vivendas apalaçadas (não havia quase prédios, toda a Foz que ia da marginal em frente ao mar até ao outro extremo, passando o corte de ténis e a igreja era uma vila de casas de dois, três pisos) que tinham uma criada que se chamava invariavelmente Emília. Pois bem, recordando-me disso, substitui o nome da empregada do senhor Euclides, pai de Ana Boavida, Lídia por Emília. Depois, satisfeito como se tivesse matado um touro em África, tomei o Fertagus (eu estava no café da Fnac) e regressei a casa. 

         - À hora a que escrevo estas linhas provavelmente já começou a matança de centenas de palestinianos que fora adiada para hoje ao início da tarde. Não querendo enervar-me com a atitude dos israelitas, eu que me habituei a estimá-los, quanto mais não seja porque Jesus Cristo escolheu ser um deles, passo a palavra à minha ilustre concidadã, filha de Prado Coelho, Alexandre Lucas Coelho. Durante anos encontrei-me com o pai, praticamente todas as noites (sem intimidades), quando me juntava ao Braga, dito Braguinho por ser baixote, e a Michel sua namorada, no Granfina. Por este bocado de prosa, até dá para pensar que ela leu o que eu aqui registei há dois dias. Evidentemente que não. O que se constata é que temos a mesma visão dos factos. Reparem e confirmem (o texto integral está no Público de hoje e vale a pena lê-lo): “O Hamas será uma cria de toda a gente, quando toda a gente sabe que entre nós, os vivos, milhões de pessoas vivem num gueto há décadas, controladas por uma potência militar a que as democracias chamam democracia. A democracia em Israel não ficou em risco com o recente Governo. É uma questão desde a origem do Estado. E a Faixa de Gaza, que fui vendo nas suas mutações (ela foi correspondente em Jerusalém) entre 2002 e 2017, é desde há muito um lugar como não existe outro no planeta.” Dois parágrafos a seguir: “Mas seja o que for que o Hamas tenha feito, e ainda esteja por vir ao de cima, é uma obscenidade adicional que milhões de palestinianos tenham de pagar por isso. Que Israel possa castigá-los (incluindo bombas de fósforo branco) com a ajuda até militar dos EUA e o aval de boa parte da Europa. Que a comunidade internacional deixe os palestinianos serem devorados por esta onda racista, despudorada, impiedosa. Ouvi o discurso de Biden como a consagração histórica do racismo contra os palestinianos. Sim, o sangue de Israel vale mais para Biden. Ou para quem queira proibir a bandeira palestiniana. Aliás, depois da Assembleia da República se vestir com as cores de Israel (uma vergonha, digo eu), e a bandeira de Israel flutuar no Castelo de São Jorge (outro escândalo próprio de gente sem cultura e sensibilidade de nenhuma espécie, resmungo eu), quero as cores palestinianas também.”   

         - A desaba de chuva que nos andam a prometer, aqui não dei por nada. Pelo contrário. O calor não abrandou e estou de t-shirt como nos bons dias do Verão. Fiz quatro frascos de compota de maçã reineta. Só para preparar o fruto, levei duas horas. Não sendo tratadas, o bicho está por todo o lado. Que mais? Fui ao Auchan fazer compras de manhã. Agora estou à espera do homem que vem arranjar o chão da lareira, com mais de vinte anos, o calor soltou o tijolo. Estou a fazer um poulet no forno. Cruzes! Sempre me saíste um dono de casa, homem!