terça-feira, março 14, 2023

Terça, 14.

Foi-me impossível prosseguir a descrição de horror da viagem que Simone Veil fez, em 1945, entre o campo nazi de Auschwitz-Birkenau e Bergen-Belsen. As páginas 72 a 85 que contam como escapou à morte, e como eram esses bastiões de indiscritível horror, sofrimento, desumanidade, autêntico inferno, deixaram-me no limite da angústia e do desespero, fechei o livro Une Vie por incapacidade sensível de continuar. Estive em Auschwitz-Birkenau na manhã de 14 de Janeiro 2019 coberta de neve, onde o silêncio era mais espesso e a memória não apaga os gritos lancinantes que ali permanecem e arrepiam quem por lá se afoita. O terror, camadas de terror sobrepostas, ficaram naqueles pavilhões cobertos das sombras malditas que inundaram a Europa entre 1939-1945. No meio da alucinação nazi, quando Hitler pressentiu o fim e os soldados dos campos de concentração atacaram as mulheres judias com o pretexto de não terem relações sexuais há muito tempo, raparigas e mulheres sofreram ainda esse vexame ignominioso. O mesmo aconteceu com as alemãs que os russos utilizaram como muito bem entenderam e a sua sexualidade selvagem ditou.  

Fotos sinistras que nos cegam de raiva e estupefacção.  




         - Numa grande superfície comercial um empregado assim que vê chegar aproxima-se: “Em que o posso ajudar?” Conhecemo-nos de longa data, mas desta vez achei-o diferente. “Há qualquer coisa que mudou em si”, digo por gentileza. E ele todo roliço: “Oh, decidi não pintar mais o cabelo e a minha esposa diz que até me ficam bem estas brancas nas fontes.” Tem mulher, perdão, esposa que é cega...  

         - Estive a serrar os grossos troncos de uma espécie de yuca que tinha atingido um certo porte. De seguida fui fazer meia hora de natação e voltei para prosseguir a leitura de Simone Veil. A tarde esteve admirável e sentado lá fora ao sol, ia intervalando o olhar nas páginas limpas da autora e na paisagem pronta para receber a Primavera. Há neste quadro belo, um destino renovado que me surpreende em cada ano. Como se a natureza contivesse em si a maravilha que se espreguiça quando sente chegada a hora de se exibir. 

         - Já se aproxima mais uma crise financeira. Como sempre chega-nos dos EUA e ameaça os sistemas bancários europeus. O célebre banco do Silicon Valley e um outro, mas é aquele que me interessa porque assenta nas novas descobertas tecnológicas como a Inteligência Artificial, que nos alimentam o orgulho com a sua estabilidade e elevados rendimentos, pelos vistos, afinal de contas, não passam de uma casca de laranja a boiar em alto-mar. Os políticos ronhas, já se adiantaram a dar por certo que as Finanças da UE não vão à falência. O nosso sacristão está de acordo – com ele ao leme os portugueses vão continuar a enriquecer. Só que o dinheiro, não lhes chega às mãos. Porque será?