sexta-feira, março 17, 2023

Sexta, 17.

Há um espectáculo com todos os horrores e figuras e figurões lá dentro: as greves ditas gerais nos sectores do ensino, consultas médicas, justiça, recolha de lixo, impostos e os nossos queridos operários dos comboios, mercenários do PCP. Todos estes organismos integram aquilo a que se costuma chamar função pública. Dos privados, parece que os enfermeiros entraram na dança, o resto trabalha –  este resto deu a maioria a António Costa. Só pode. Embora me revolte contra o desprezo, a leviandade de certos sectores ao serviço da comunidade que recorrem à greve em sucessivas ondas, também não deixo de pensar que em Portugal nunca os trabalhadores obtiveram uma côdea sem violência. Todos os governos, este em particular porque não governa para nós, mas para o brilho das injustiças que tanto são apreciadas na União Europeia, que lhes endeusa o comportamento, a gestão das Finanças e a doçura do país. Dirigentes assim, perfilam para postos de elevado gabarito em Bruxelas, com salários a condizer e ajudas de custo e viagens e os holofotes do mundo a aformosearem os seus espíritos brilhantes.

         - Todavia, sob as suas capacidades governativas, acontecem cenas de bradar aos céus. Como a mais recente (há centenas no rosário da liderança de Costa!) detectada pelo Tribunal de Contas. Este descobriu a compra de dez catamarãs eléctricos, pelo valor de 52,4 milhões de euros a uma empresa espanhola, para a travessia entre Lisboa e a margem Sul do Tejo, pela Transtejo, mas com um pormenor de somenos importância: só um estava equipado com a bateria que permite a sua navegação. Descoberta a falta, logo a administração da empresa pública, tentou por ajuste directo, adquirir os nove acumuladores em falta, por mais 15,5 milhões. Felizmente que os técnicos do TC estavam atentos e recusaram o aval com esta frase sublime que ficará na história daquele organismo: este negócio equivale a comprar um “carro sem motor, uma bicicleta sem pedais ou uma moto sem rodas”. Excelente, excelente! A administração demitiu-se em bloco, mas esta acção acontece por todo o lado onde o dinheiro dos contribuintes corre como água do oceano. É por estas e por muitas outras, que eu reclamo dos meus concidadãos a revolta enquanto exercício cívico. O dinheiro nunca chega para abrandar a pobreza, mas sobra para os desvarios de gestão, os salários de directores e CEOs (oh, bela designação!), indemnizações milionárias, e todo esse parasitismo que prolifera na administra pública. Vou citar Julien Green para que me entendam (não encontrei a citação, embora tenha folheado as 1031 páginas do volume 3 de Toute Ma Vie, grosso modo, o que ele diz é que quanto mais nos cultivamos, mais livres somos. 

         - A lei que permite ao Estado francês adiantar a idade da reforma para os 64 anos, passou com o decreto do Presidente da República. As grandes contestações nas ruas, na Praça da (des) Concorda, com greves abundantes à mistura, vão prosseguir, para regozijo da rataria. Calcula-se que 3 milhões de ratos só em Paris, engordam e passeiam-se por prédios e avenidas da capital. Os empregados da recolha dos dejectos de milhões de franceses que há uma semana estão em greve, fazem com que 5 metros de altura de sacos e todo o tipo de porcaria acumulado nos passeios, impressione e revolte os parisienses.  

         - Seis meses depois do início da contestação da juventude iraniana nas faculdades e ruas de Teerão, e apesar da violência feroz do Governo, juventude e cidadãos misturados, continuam a gritar “abaixo a ditadura”. São eles o heróis de amanhã. 

         - Costumo ver o noticiário da SIC todos os dias. Acontece que ontem, fui obrigado a sintonizar a RTP1 e esbarro com o locutor-escritor de serviço, José Rodrigues dos Santos. Que personagem! Desde a atitude, a voz impositiva, a gordura que lhe sobe com o nervosismo ao rosto, tudo aquilo num tom áspero, sonoro, como quem discute, aqui estou aqui me têm, me pareceu patético.  

         - Outro dia vi um extraordinário documentário da RTS sobre a guerra na Ucrânia. As monstruosidades dos soldados russos a matar ucranianos indefesos para as câmaras de televisão, como se fossem moscas brejeiras, ou um filme de gangues enfurecidos, sem qualquer tipo de humanidade, deixaram-me num estado de enervamento que me custou a adormecer. O João Corregedor costuma advertir-me: “aquilo são imagens realizadas pelos americanos”. Como sempre o bem está neles, o mal nos outros.