quarta-feira, março 22, 2023

Quarta, 22.

Transformámo-nos num país que escolheu a evasão à realidade. Leio nos jornais, ouço nas notícias que Lisboa, Porto e Almada possuem elevados vestígios de consumo de cocaína e canábis nas águas residuais. A informação vem do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência. 

         - As novas tecnologias são o delírio das novas gerações. Não as contradigo, mas vejo com tristeza que se deixam enredar num logro que eu antevejo vir a ser a masmorra e a alienação utilizadas por futuros ditadores para lhes cercear a liberdade. Livros sobre a matéria não faltam, “escritores” também não. O pequeno génio que é um tal Chem Qiufan, chinês de nacionalidade, que se ocupa em livro de Inteligência Artificial de que tanto se fala, numa entrevista diz coisas como estas: “O ser humano precisa de recompensas sólidas: dinheiro, sexo, comida, prazer instantâneo ou estimulação.” Depois divaguei-a e afirma sem sentido: “Algo como uma contribuição com a humanidade e um sentido de pertença” (perceberam?), e acrescenta: “É um pouco naive, mas gosto dessa visão do mundo.” Eu, não. E muito menos de parlapatices. 

         - O modo como as africanas que encontro no Fertagus se atiram cheias, gordas de coxas, mamas, todo o corpo imenso para o assento, é um pequeno telúrico que faz tremer as redondezas. 

         - Ontem estive em agradável conversa na Brasileira com o António e o Castilho, (a praga da política afastada). Para merecer as duas horas de convívio, tive que subir a quase centena de degraus (ou talvez mais) dos escombros da vergonha do metro, à superfície. Raramente as escadas rolantes funcionam, o metro e a edilidade estão-se borrifando para os cidadãos. Suas excelências têm direito a carro e motorista pagos com os nossos impostos. O novo-riquismo dos países miseráveis, sobra sempre para os caloteiros, os corruptos e os incompetentes. 

         - Almocei com a aristocrata Constança. Outrora tivemos um caso, mas não foi disso que falámos à mesa da Confeitaria Nacional. Trabalhámos ambos na Latina, eu como copy, ela a secretariar Jorge Rodrigues, o director. Recordo com saudade esse tempo, não obstante ter contraído pela primeira vez uma monumental depressão devido à acumulação de trabalho no jornal e na agência de publicidade. 

         - A morte do empresário socialista Rui Nabeiro fez correr muitas lágrimas de crocodilo à classe dirigente. Eu estive com ele duas vezes e pude testemunhar da humanidade que transmitia como algo natural provindo da sua personalidade. Não vou recontar porque os nossos encontros foram narrados já noutras páginas. Paz à sua alma. 

         - A reunião os dois ditadores, pariu um rato morto. 

         - Levantei-me cedo para deixar o carro na oficina. Regressado a casa, logo me ocupei de carregar não sei quantos carros dos restos das yucas para o local onde serão queimados. Recaída de dores nos rins. Não é fácil a vida de um modesto camponês.