quinta-feira, março 30, 2023

Quinta, 30.

A notícia do dia que impressionou meio mundo, foi a morte de duas mulheres e o ferimento de outra, atingidas por arma branca, no Centro Ismaili de Lisboa. O agressor é um homem de meia idade, afegão, que se refugiou entre nós há um ano. Parece que não houve motivos políticos nem xenófobos, tratando-se de alguém com perturbações mentais graves. De facto, segundo a Polícia, o homem fugiu do Afeganistão com a mulher e três filhos menores, passou pela Grécia onde a mulher morreu num incêndio no campo de refugiados, em Lesbos, até chegar a Portugal em 2021 na companhia dos filhos. Este quadro é suficiente para nos arrepiar, mais ainda para pensarmos a forma como recebemos quem foge da guerra, da fome, da miséria e da humilhação. “Estamos perante um momento de um surto psicótico, que terá levado a que este trágico acidente possa ter ocorrido", diz o comunicado da Polícia. Pois é. Se não somos os directos responsáveis pela situação, somos moralmente atingidos porque somos muito prontos a acolher e breves a descartar responsabilidades de assistência e condições dignas. É evidente, com o quadro descrito, o pobre homem, decerto sentindo que a vida ficou aqui retida, olhando o destino dos filhos, sem horizontes nem perspectivas, a cabeça incapaz de organizar o presente, num momento de loucura, enveredou pela raiva que não o largava. Todavia, a quem devemos assacar responsabilidades, é ao senhor Joe Biden que abalou à má fila do Afeganistão, deixando para trás um povo às garras de loucos fanáticos. De um dia para o outro, por aqui me sirvo, e deserta deixando milhões de pessoas entregues à sua sorte. É a América no seu pior, que não deve dar lições morais a ninguém quando tem a consciência manchada de incríveis golpes de desumanidade. 

         - Fui levar o tac à minha médica de família. Deixei-a observar o exame e aguardei pelo veredicto: “Sim senhor, aqui não há vestígios de nenhum acidente, tem um cérebro impecável.” Contei-lhe então o que me disse o colega que operou o registo, e ela: “Pois. Aí tem porque eu aconselho aos meus pacientes que não desistam de trabalhar com o cérebro. O senhor é um bom exemplo.” Mas eu disparei: “Sou um todo. Desde cedo que leio muito, trabalho com a cabeça noite e dia, como pouco, durmo o máximo que posso e tento guiar a saúde que é parte integrante da vida que para mim é sagrada.” Riu-se.