domingo, março 05, 2023

Domingo, 5. 

Negligenciei a vinda aqui por laxismo, cansaço das palavras, monotonia grosseira da nossa vida colectiva e dispersão. A escrita necessita de concentração, solidão, horizontes fechados, cabeça limpa e vivência paralela entre dois mundos opostos: o da realidade e o da fantasia. Retomemos, portanto, para meu equilíbrio ainda que o mundo e o nosso país não sejam lugares onde apeteça viver e criar. Falemos de nós, o mesmo é dizer falar de mim, pois este diário não é mais que uma permanente interrogação de mim para mim, com os olhares quotidianos de uns quantos leitores que me admira encontrarem nestas linhas algum interesse.

         - A radiografia da nossa realidade política é surpreendente, embora, conhecendo como julgo conhecer os comparsas que nela actuam ainda assim, alguns conseguem surpreender-me. É o caso daquele pobre homem que na Assembleia apontou os chifres à oposição. Manuel Pinho, antigo ministro da Economia, negou a semana passada  ter praticado crimes de corrupção, embora assuma, no Requerimento de Abertura de Instrução (RAI),que cometeu “ao longo de vários anos, crimes de fraude fiscal, tendo embarcado num esquema global dentro do Grupo Espírito Santo (GES), em que os pagamentos de parte das remunerações e de prémios eram feitos por fora, inclusive para offshores”. Claro que não é de maneira nenhuma um caso isolado. A podridão está por todo o lado, e não é por acaso que estamos entre os países mais corruptos, não direi do mundo, mas da Europa. 

         - A guerra, entretanto, não parou. Conheceram-se os números odientos com 60 a 70 mil soldados russos mortos em combate. Curiosamente, nada se sabe dos que faleceram do lado ucraniano. Como em qualquer guerra não há anjos da guarda, imagino que o número não deve andar muito distante, não digo entre miliares, mas estes mais os civis. Uma outra sondagem aponta para o total de baixas russas, incluindo militares mortos, feridos e desaparecidos, entre os 200 mil e os 250 mil. Contudo, os números nesta situação, valem o que valem. Mas há mais: este valor ultrapassa o número de militares russos em todos os conflitos que envolveram a Rússia e a União Soviética desde o final da II Guerra Mundial; destacando-se a invasão do Afeganistão, entre 1979 e 1989, em que morreram entre 14 mil e 16 mil soviéticos, e as duas guerras na Tchetchénia, entre 1994 e 1996, e entre 1999 e 2009, onde morreram entre 12 mil e 25 mil militares russos (A este propósito, conselho a leitura de Um Diário Russo de Anna Politkovskaya, ed. Círculo dos Leitores). Os autores do estudo, também incluíram nos cálculos os cerca de sete mil mortos durante os oito anos de guerra no Donbass, embora a Rússia negue participação directa nesse conflito. 

         - Por cá o Governo deixou cair referendo à regionalização por, segundo diz, falta de apoio do PSD. Tenho qualquer coisa a dizer sobre o assunto, mas acontece que vou ter que me despachar para um almoço em casa da tia Júlia. Ficará para depois.