terça-feira, fevereiro 21, 2023

Terça, 21. 

A autêntica prisão em que está transformado o Irão, com centenas de mortos e jovens enclausurados, parece não abrandar. Mesmo com as tempestades de neve que impossibilitam a juventude de descer às ruas em protesto, é das janelas de suas casas que gritam “morte à ditadura”. 

         - A corrupção é a maior praga das democracias. Aqui ao lado, em Espanha, a Renfe encomendou 31 comboios por 258 milhões de euros, mas esqueceu-se que eles são demasiado largos para entrarem nos túneis. O mesmo se passou na Turquia onde muitas casas ruíram por terem sido construídas sem regras contra sismos. Ou em Portugal, logo após o 25 de Abril, quando o Estado obrigou milhares de automobilistas a comprar palas para as rodas traseiras dos automóveis, com o pretexto de evitar acidente ao carro que vinha atrás quando chovia. Ou quando dos grandes incêndios do Norte, em 2017 com as célebres golas antifogo. 

         - A semana começa como começaram tantas outras desde que Costa obteve a maioria: com greves. Há-as com os professores, enfermeiros, maquinistas da CP, mangas de alpaca do Fisco e não sei mais quantas outras sem voz que chegue às televisões. 

         - Ontem, tendo ido a Lisboa, almocei (bem) no restaurante panorâmico do C.I.. Depois deixei-me ficar preso à cadeira a olhar a cidade pardacenta, nem chovia nem fazia sol. Sentia-me bem ali após um longo trajecto pedestre que me trouxe do Campo Pequeno. Pensava no que havia escrito anteontem e recordava-me o quanto Julien Green sofreu por temer a Deus. Por natureza excessivamente dependente do sexo, levou a vida a cair naquilo que ele dizia ser “o pecado da carne” e a arrepender-se por ter ofendido a Deus, impondo-se jejuns terríveis e castigos sobre-humanos. Foi deveras um homem religioso que em muitos aspectos ultrapassou sacerdotes, bispos e cardeais de hoje. Caía e levantava-se e voltava a tombar nas ruas que eram para ele verdadeiras tentações. Confessava-se no seu diário. “En revenant chez moi, je me sentais un coeur de très jeune homme, malgré ces cheveux gris qui commencent à se mêler à mes cheveux noirs. Je voudrais pourtant, à cause de ces cheveux et de mon âge, n´avoir plus ces passions si exigentes qui m´ont longtemps mené et empêché de grandir, d´atteindre toute ma stature. Ainsi, je regrette d´être obligé, que mon corps soit obligé, d ´aller au mauvais lieu de la rue Duret et de m´y amuser avec un corps obéissant et passif qui m´est offert pour la somme de 200 francs.” Umas trezentas páginas adiante: “Pour les tentations, j´en evite un nombre considerèrable en baissant les yeux le plus possibles dans la rue. L´autre jour il m´est venu cette pensée: “Que les paupières baissées le soient les murs d ´en monastère.” 

         - Aguardava-se com curiosidade o que tinha Putin a dizer no seu discurso sobre o estado da nação, a par da incorporação à última hora de p.b de raiva contra Biden se ter deslocado pela primeira vez a Kiev e aí ter deixado mais uns milhões de ajuda à Ucrânia. Mas o que saiu, foi uma baforada de ódio, típico de um homem abandonado, derrotado, deixado só a falar para os seus correligionários atemorizados com as sanções que em qualquer altura poderão sofrer, se ousarem pôr em questão a utilidade da união do império soviético. Parece que o momento mais aplaudido, foi quando o ditador, desconstruindo a liberdade na Europa, se serviu do casamento entre homossexuais. Como se na Rússia por ele capitaneada, não os houvesse. Putin é um ignorante a nível de muita coisa e sobretudo da tecnologia dos computadores. Porque de contrário, iria ver como os rapazes se entregam uns aos outros nos chats russos e europeus. Talvez seja uma elite, até pelo esplendor das casas e sua decoração, belos corpos trabalhados e depilados, mas ainda assim não deixam de ser homens que se satisfazem com homens. 

         - Acabei de queimar os grandes ramos da árvore abatida há um mês. De seguida, de roçadora em punho, comecei a roçar a erva na parte da frente da casa (de quem entra). Duas horas depois, extasiei-me de felicidade a ver o resultado. Tudo sem o mínimo cansaço. Glória a Deus!