sábado, fevereiro 18, 2023

Sábado, 18.

Não se fala noutra coisa para regozijo das meninas queques do BE, da esquerda PS e da reserva recatada do PCP. Grosso modo, para todos o facto de a Igreja estar a ser exposta devido aos criminosos actos ou pecados mortais que ela própria sempre apregoou, contra menores e muitas vezes crianças, engrandece-os como se dentro das famílias, nos partidos, em instituições como universidades, escolas, institutos de menores com vidas problemáticas familiares e sociais, nas empresas, repartições públicas, esse tipo de investida não existisse. O assédio e a brutalidade está por todo o lado numa sociedade aberta, sem cultura nem valores, onde o básico, o primário tomou conta de tudo e de todos. Aqui como noutros países ditos desenvolvidos. Porque isto não tem a ver com a pobreza embora esta esteja à mercê de si própria e tenha menos defesas para enxotar o poder dos que julgam dispor de tudo e de todos. António Barreto, na sua coluna de hoje no Público, acerta na mouche quando denuncia: “Há também os abusos, o assédio e as violações de adultos. Sem falar nas numerosas instituições sociais e equiparadas, colégios privados, internatos, organizações desportivas e militares, lares, associações de juventude e outros. Sem esquecer, evidentemente, que é no seio da família que ocorre a maioria de abusos e de violência.” Sem falar nos conventos de freiras e seminários, acrescento eu. Bem sei que a carne é fraca, que o físico jovem é um cavalo desalmado, que é dificílimo suster os instintos quando se tem vinte anos, mas uma coisa é investir sobre uma criança indefesa, que ainda não conhece os segredos que o seu corpo guarda para lhos revelar mais tarde e outra, muito diferente, é entrar num corpo que ainda não desabrochou para o vislumbre e o prazer de si próprio. Tal como com a idade Deus nos prepara para a morte, assim na infância vamos a pouco e pouco descobrindo as sensações, o brilho das estrelas, os êxtases do nosso corpo, os silêncios iluminados ao toque, a transformação física em algo que se objectiva em nós e nos outros, porque o olhar como uma lanterna vai transfixando as intimidades para as trazer ao pleno, ao fosforescente instante em que deixamos de ser um para passarmos a ser dois em um. 

Todo este fascinante mistério do desenvolvimento humano, que começou no ventre da mulher, é de tal modo luminoso, transcendente, como se um diálogo interior formasse uma capa de felicidade que nos protege durante a nossa caminhada por este mundo. Deus fez-nos um a um, ninguém é igual a ninguém, e todos estamos sob a mesma protecção, ricos e pobres, a vida consagrada no altar do Amor transcendental que nos devia merecer todo o respeito como acontecimento único e irrepetível. É por isso que toda a violência sobre crianças indefesas, velhos frágeis, pobres sem eira nem beira, devia ser também nossa. Somos enquanto sociedade responsáveis uns pelos outros, com maior propriedade e humanidade que todas as leis e códigos feitos sobre os joelhos por políticos que nunca olharam o sofrimento e agem na indiferença do poder que tudo pretende submeter. À sociedade dos governantes interessa-lhes o todo, a nós o singular, aquele que está próximo de nós, que sofre em silêncio por ter desistido da esperança e ter entregado à solidão o desvario da renúncia. 

As muitas denúncias que o trabalho do grupo de pessoas elaborou e deu-nos a conhecer, não podem ficar circunscritas no dossier, têm de ser julgadas em tribunal como crime contra a inocência e o resguardo da pureza. Aqueles crimes dizem respeito a cada um de nós; não podemos ficar indiferente a eles, ainda que eu, pessoalmente, tenda a perceber que é difícil dominar os instintos sexuais, sobretudo quando, como no caso dos sacerdotes, sendo homens como nós, possuem um corpo e instinto que exige a consumação do prazer enquanto pacificação. Mas a escolha foi de cada um deles: Deus ou a vida de pecado que inunda a humanidade. E tal como as sociedades hoje encaram a sexualidade que muitos atribuem ás descobertas de Freud, a sua função junto dos crentes devia ser ainda mais inspiradora. Felizmente que Deus existe e olha-nos com a Sua infinita compaixão e espero perdão.