quinta-feira, fevereiro 09, 2023

Quinta, 9.

O número de mortos na Turquia e Síria devido a terramoto ocorrido segunda-feira, com magnitude de 7,8, aproxima-se dos 13 mil. Dizem os cientistas que o abalo teve ramificações sísmicas em todo o mundo. Todavia, na televisão, assistimos a autênticos milagres, com crianças a saírem dos escombros intactas e a algumas a sorrir. A humanidade com o que resta de solidário e bom, acorreu em massa à Turquia e menos à Síria onde a guerra ainda dura. A tamanha desgraça, somam-se as baixas temperaturas, a neve que cai em espessos flocos confundindo terra e céu. O mundo atravessa uma fase terrível e todos nós dispensaríamos mais esta calamidade. 

         - Portugal, sob a égide socialista, conhece um dos piores momentos da sua história recente. Não sei quem bole nesta altura, pois há um mar de greves a paralisar o país. Este, real, humano, suado, e não aquele de António Costa que só ele e os senhores deputados conhecem. Há paralisações na CP, nas Infra-Estruturas rodoviárias, nos professores, no metro de Lisboa, nos Transportes Sul do Tejo, no sector judicial, ufa!, chega! 

         - Anteontem vieram cá almoçar alguns amigos. Passámos um dia agradável, sobretudo, porque conseguimos arrancar de casa o Virgílio. O dia ajudou, cheio de sol e leves penumbras a toldar o firmamento, sem, contudo, fazer desaparecer o brilho das árvores, o cântico dos pássaros, os aluviões de corvos. 


 
Virgílio Domingues, escultor; António Carmo, pintor; e este que raramente se apresenta.(fotos de Idalina Carmo)

         - Depois do almoço, fomos a Setúbal revisitar o museu da cidade que tem no primeiro andar, oferecida à cidade, a obra maior do escultor. Virgílio Domingues parece confiar agora mais no seu destino etimológico, na sua espetacular força artística, que molda com aprumo e poesia peças extraordinárias de força, temática e memória. Perpassa por quase todas elas uma leve sombra que matiza e concentra as formas transformando-as em peças de arte que não cessamos de admirar de todos os ângulos. Porque de cada ângulo descobrimos o todo e do todo abraçamos as linhas puras de beleza e força estrutural que concentram. Há naquele núcleo de mais de cinquenta peças, uma unidade intrínseca, homogénea, de certo modo única, inspirada em Henry Moore, mas equidistante dele porque passou pelo crivo crítico, figurativa e abstracta, olhar-memória que retém a fulguração do instante, a mão sensual e forte de Virgílio Domingues.