sexta-feira, fevereiro 03, 2023

Sexta, 3.

O homem apesar de pequeno, impõe-se em bicos de pés: “eu dei ordem”, “eu exijo”, “eu ordeno” e assim Carlos Moedas assumiu, potente e soberano, a condução do espectáculo religioso transmitido do “altar-palco”. Coitado. Até tem condições naturais para fazer melhor que o seu antecessor, mas não vai lá. Demasiada ambição ofusca-o. Lembro-me no tempo da troika ele ter afirmado estar de acordo com o plano traçado para Portugal, e de tal modo que ele e Coelho acabaram por duplicar o castigo aberto pela ladroagem socialista de José Sócrates. É este país é uma choldra. 

         - De acordo com o reverendíssimo abade, o sacristão apregoa todo babado que Portugal cresceu 6,4% mas é ainda uma previsão. Contudo, a técnica propagandística joga com o efeito do número - é este que é detido. Porque o nível de vida pobretão, as dificuldades em acompanhar a inflação, a paralisia, o rom-rom monótono do quotidiano, não é especulação “é o mercado a funcionar” – dizem eles. 

         - Vi uma cena canalha na TV que me impressionou: um imigrante agredido a pontapé, a murro e até tentativa de pegar fogo ao cabelo, por um grupo de miúdos selvagens, no Algarve. As autoridades já tinham referenciados alguns deles, mas esperavam o que viria a sair de um grupo de trabalho (mais um) formado para estudar o crescimento de delinquentes juvenis. O grupo foi constituído há seis meses, mas, como sempre, nada produziu. 

        - Depois do almoço, ao sol, sob o alpendre, comecei a ler um livro de contos de Aquilino Ribeiro, Jardim das Tormentas. Trata-se de uma edição numerada (nº 227), com assinatura do Mestre, e ilustrações de Luís Filipe Abreu. Tenho sempre grande prazer em voltar ao feiticeiro da língua, sobretudo depois de ter começado o ano com leituras todas de carácter religioso e teológico. Seguiu-se uma hora de sesta, absolutamente inopinada quando ontem, tendo-me dada a fagulha do sono (acontece muito raramente) pelas 22 horas, só tenha acordado às oito da manhã. Dez horas seguidas e abençoadas. Cheio de energia, atirei-me ao corte da erva no espaço que ontem havia começado e acartei para queimar os abrolhos das oliveiras.