domingo, fevereiro 19, 2023

Domingo, 19.

Ainda reflectindo sobre o que então disse, há um facto que é incontornável em toda esta questão: nós, sobretudo, na juventude, não dominamos o animal sensual que acorda em nós – somos pura e simplesmente dominados por ele. É neste aspecto que eu penso que não ofendemos a Deus quando o acalmamos nas diferentes variantes dos nossos prazeres e realizações sexuais. Porque o instinto é também obra do Criador, portanto, o pecado concebido pela Igreja é decerto modo uma afronta contranatura. Onde entra o pecado dito mortal, é quando submetemos o outro, forçando a sua liberdade, a sua identidade intrínseca, escravizando-o e conduzindo-o por caminhos que não o dignificam ou realizam. O pecado, depois de muito pensar e ler muita teologia, ficou resolvido dentro de mim desta forma decerto simplista: ofendo a Deus quando ofendo o meu semelhante enquanto imagem fulgurante do Criador. Não conheço nos Livros Sagrados nenhuma regra para o pecado. É certo que no século I, quando Jesus Cristo habitou os caminhos terrenos dos homens, a actividade sexual desses povos era selvagem, sem regras, a mulher era objecto do homem, os filhos qualquer coisa que nascia do azar. Uma sociedade assim constituída, naturalmente, provocava desajustes de muita ordem e a escravidão da mulher e o poder dos poderosos, reduziam à insignificância todo o ser humano. Hoje sabemos que o homem não necessita das normas canónicas e até religiosas, para se conduzir como ser civilizado. É, todavia, importante saber que a solidariedade, o amor, a igualdade são valores sagrados do cristianismo. Sem eles, as sociedades modernas, não teriam rasto de suporte, nem a aceitação de que usufruem. Penso que a recusa ou não aceitação do sexo como realização fecunda do ser humano – e daí a normativa de os padres serem solteiros e toda a filosofia de São Paulo sobre esse tema – tenha em conta o facto de a actividade sexual ser tão possessiva que só a entrega solitária e única e disponível a Deus é aceite. Aceite não de qualquer maneira, nem por todos e cada um, mas por aqueles que receberam a graça de consagrar a sua vida ao Senhor e ao próximo. A filosofia de Cristo foi de tal modo revolucionária, e, como direi, veio inclusivamente dar sentido a muito do que vinha de Xénon, Sócrates, Aristoteles muitos séculos antes de Cristo, até a chegada de Santo Agostinho (354-430) d C. É esta a base das leis europeias e dos seus povos. A Europa tal como a conhecemos, não pode disfarçar a presença de Deus, não pode fechar os olhos às catedrais, a homens como Pascal. A sua doutrina foi e é inspiradora e nem Karl Marx escapou a deitar nas suas ideologias derivados da tradição cristã e do ensinamento de Jesus Cristo. É por isso, que as acções dos padres da igreja dos nossos dias, nos escandalizam e interrogam. Deitar borda-fora tanto sacrifício, tanta luta, tanta aproximação a Deus, tanto sofrimento e tanta ressurreição leva a descrença dos valores imortais da Igreja Católica. 

         - A terrível tragédia que assolou a Turquia e a Síria não pára de nos surpreender. Cidades e vilas – Mustafa, Osman, Neslihan - 260 horas sob escombros, ainda acontecem milagres: pessoas e animais saem vivos à superfície. Só na Turquia morreram 46 mil pessoas. Horror! Horror!