quinta-feira, fevereiro 02, 2023

Quinta, 2 de Fevereiro. 

Há muito que deixei de ouvir sua excelência, não perco o meu preciso tempo a conhecer mais do mesmo. Todavia, não consigo evitar os efeitos colaterais daquilo que ele tira da cartola das mentiras e propaganda, porque leio as gordas dos jornais, ouço rádio e escuto os amigos. Suponho que em todo o país só ele e o seu sacristão estão convencidos de que a governação tem sido exemplar e a vida dos portugueses melhorou com ela. Fico-me pela maior de todas as aldrabices: a promessa, no dia em que ganhou a maioria, de “estabilidade governativa”. Marcelo é cúmplice do desastre em que vivemos, porque não consegue separar o aluno “brilhante” que diz ter sido o seu, do governante chico-esperto, atabalhoado, com uma desastrosa práxis política em que pupilo se transformou. 

         - Eu creio em Deus, sou católico, mas não vou estar em nenhuma missa que o Papa Francisco celebrará em Portugal. A vinda de sua Santidade, está transformada numa feira religiosa onde todos ganham menos o Altíssimo que precisa de silêncio, desprendimento, humildade, pureza e fé e não de esta algazarra que se instalou onde todos anunciam ganhos preciosos. Eu tinha falado em despesas totais de 100 milhões – já foram ultrapassadas e estão hoje avaliadas em 160 milhões. É tudo a roubar, até os moradores dos prédios da Expo, pedem por um quarto/dia 1.000 euros! Quanto aos políticos, sobretudo o senhor Moedas (lá está ao nome fala por si), quer ficar na fotografia da história como o grande senhor que recebeu Bergólio com a ostentação que o discreto e humilde visitante dispensa. Para tirar os pobres que dormem nas ruas da capital, criar casas para a juventude, lares dignos para os velhos, uma cidade mais humana onde a exploração não exista, não há dinheiro. Estamos entregues à bicharada. Portugal nunca deixará de ser miserável, porque tem tido ao longo da sua história democrática políticos de meia-tigela, sem inteligência, cultura, seriedade e horizontes vastos. Que nunca souberam criar riqueza, manobrando os pobres coitados com a razia dos impostos, do comércio a pataco, da instrução básica; evitando criar indústria, preferindo viver de esmolas como nestes últimos seis anos tem acontecido com a mama da UE, que permitiu a António Costa e ao seu sacristão passar por inteligentes. Gastar à tripa-forra sempre foi o mérito dos socialistas. Adoram ter os pobrezinhos acalmados com as esmolas que lhes dão na forma de subsídios, de pequenos contributos sazonais. É o modo de baixar a pobreza dado que esta sem auxílios estatais não seria os criminosos 2,5 milhões mas o dobro.  

         - A lei da eutanásia vai e vem, é o ioiô querido da esquerda. Que insiste não obstante as dignas razões do PCP de votar contra, o indispensável referendo proposto pela direita e assim. Há uma tal obstinação pela morte que vem do facto de a vida nunca ter interessado à sentença banal, efémera, furibunda de ideologias, em que vivem a actuam sem discriminação acima do ser humano. Veja-se o desprezo que têm pela pobreza dos seus concidadãos, a indiferença às existências arrastadas e para eles inúteis dos velhos, dos sem-abrigo, da dignidade que cabe inteira em cada ser humano, interessando-lhes apenas o colectivo que é manada fácil de manobrar. A ligeireza e alegria como eles afrontam as pequenas vitórias de uma frase aqui, uma linha além, prontamente expurgadas do texto de forma a que o Tribunal Constitucional lhes devolva aquilo que denominam de “direito à morte com dignidade”. Meia dúzia de assassinos têm o poder de impor a morte a dez milhões. Em nome da democracia, nas costas da vida. 

         - Como poderei classificar o dia de hoje? De estado de graça é o que me ocorre. De manhã corrigi 10 páginas do romance, fiz depois um prato para arquivo, li debaixo do telheiro, fui continuar a roçar erva defronte do salão (só não conclui porque me faltou a gasolina), cortei os rebentos grossos de várias oliveiras, e, sem uma dor ou cansaço, tomei um duche e aqui me encontro a dar testemunho de um dia sem igual. Louvado seja Deus.