terça-feira, janeiro 03, 2023

Terça, 3.

Foi pior a emenda que o soneto. Pensávamos que António Costa tinha compreendido o estado miserável em que se encontra o Governo da nação, e afinal o que saiu da cartola do mestre feiticeiro, foi uma mão cheia de coisa nenhuma. Aquela de ir buscar João Galamba para ocupar a pasta das Infra-estruturas, não lembra ao tinhoso. Ou antes, até se percebe, tendo em conta que ele não é ministro de Portugal, mas do PS (na linha do impagável senhor Eduardo Cabrita). Ainda por cima com um passado que tornou a vir ao de cima e em breve o porá também fora do barco. Como não seria de esperar que corresse com o seu sacristão - peça preciosa da sua filigrana governativa. Sem ele Costa perderia a jóia do seu clube de sábios e honrados mestres joalheiros. Todavia, dou comigo a pensar se no fundo Costa não esfrega as mãos de contente porque, com esta choldra e descrédito consequente, vislumbra a UE mais próxima e a realização dos seus sonhos. Ainda por cima, sem ter de aturar os miseráveis e pobres dos portugueses. 

         - Zelensky exulta com mais um certeiro ataque ao exército russo, desta vez em Makiivka. Espero não seja um filme, como me dizia outro dia João Corregedor, quando lhe disse estar incomodado e revoltado com o filme apresentado pelos comentadores da SIC José Milhazes e Nuno Rogeiro, onde se via um oficial, de cacete a malhar e ao pontapé aos pobres soldados russos. “Não acredites – descansou-me o amigo – isso não passa de manobra dos americanos.” E acrescentou: “Ao que se diz o Rogeiro é pago pelos americanos e o Milhazes não te esqueças do que ele afirmava da Ucrânia ainda há meia dúzia de anos.”   

         - Contudo, quem não sai da ribalta trolaró, é a slot-machine Cristiano Ronaldo e a sua “famila”. O homem veio ao mundo unicamente para enriquecer e vai daí juntou-se ao tirano da Arábia Saudita, que lhe paga 500 milhões para fazer propaganda do país e jogar à bola depois de ter sido escorraçado de todos os clubes da Europa civilizada. Tanto dinheiro a juntar a outro tanto que já tinha, não lhe trouxe a paz e a realização aos seus dias. Pelo contrário, a acreditar no seu bando familiar de gafanhotos, aquilo anda tudo desconchavado e a mãe que é a única senhora daquele enxame, parece ter sido posta de lado. Parece-me que antevejo o seu fim: uma grande cama redonda coberta de dólares, os filhos a rebolarem-se neles julgando tratar-se de papéis de rebuçados, a espanhola mascarada de jóias, os telemóveis a gritar, e ele, indiferente e triste, já com artroses aqui e ali, a rever os anos em que de passagem foi o maior jogador do mundo. Aos pés da cama, homens vestidos de escuro, incentivando-o a aplicar a fortuna na roleta russa do resto da sua vida... Pobre homem que conheceu a pobreza e nada aprendeu com ela. Porque quem nunca foi pobre, mesmo num curto período da vida, nunca viveu. 

         - Tenho o salutar hábito de começar o ano fechado em casa para não perder o Concerto de Ano Novo de Viena d´Áustria. Este ano quase todo consagrado a originais, valsas e sobretudo polcas. E também ao sonho, revitalizando a memória das duas vezes em que assisti a deslumbrantes espectáculos na sala dourada da Filarmónica. Parece que deste modo entro no ano confortado, ligeiro, civilizado e feliz. 

         - Dia em pleno. De manhã, das nove às 12 horas, trabalhei no romance; após o almoço li as primeiras 50 páginas do livro traduzido e anotado por Frederico Lourenço, Evangelhos Apócrifos e ainda o Diário de Julien Green tendo chegado à página 210 das 1031. Trata-se de uma releitura, palavra a palavra, página a página, detestando saltar ou ler na diagonal este como qualquer outro livro. O texto dos Evangelhos ditos apócrifos, são de uma beleza de cortar a respiração. São textos de Tiago que estou certo, inspirado pelo Espírito Santo tal a simplicidade, a exposição dos factos que levaram Maria a conceber sem pecado original e ao nascimento de Jesus. Mas outro trabalho me esperava a que tinha de fazer face atendendo ao dia primaveril: recomeçar a roçar a erva daninha que cresceu desmesuradamente por todo o lado. Fiz duas horas cheias, tendo começado ao portão até à parte onde guardo a lenha. Não sei como, sem nenhuma dor lombar, a serenidade tão arredia de mim, veio ao meu encontro e labutei com prazer e alegria. Tomado o duche, seguiu-se um chá com dois scones. Que mais queres tu, pobre de Cristo! A fortuna do outro infeliz? Pitié, pitié