sexta-feira, novembro 12, 2021

Sexta, 12. 

Ouvi outro dia na TV Chou Chou utilizou o cargo presidencial para campanha eleitoral antecipada. O homem não passa de uma máquina de triturar palavras. 

          - Quarta-feira andei pelo 8º bairro. Só as galeries Lafayette ocupam vários quarteirões. A zona é delas. O que sobra de espaço, ainda lhes pertence dado que tudo em volta vive à sua conta. Almocei muito bem e a um preço razoável no boulevard Haussmann. De seguida entrei e saí em algumas livrarias de onde acabei por adquirir a correspondência entre George Sand e Gustave Flaubert. Entrar nas galerias? À quoi bon!  

         - Estamos em Kiberen desde ontem. Para aqui chegar gramei sete horas de viagem. Em Paris a temperatura de manhã era de -1º, os tectos das casas estavam cobertos de branco. Reencontrei a cidade um pouco mudada devido à duração da Covid-19. Algumas lojas tradicionais fecharam e o que resta parece viver ainda enfermo da mesma doença. Depositados os nossos pertences, pondo em marcha a chauffage, saímos para jantar. Sendo dia de Armistício, os franceses partiram em debandada inundando estradas, praias, restaurantes juntando um grande fim-se-semana. Daí a peregrinação pelos muitos restaurantes todos a abarrotar. Eu queria oferecer o jantar aos meus amigos e insistia para que fosse numa creperie. O que veio a acontecer ao fim de muito procurar e no limite da lotação. Admiráveis instantes, atmosfera jovial com muitos jovens e jeunes hommes à mistura, crespes excelentes, cidra (garrafa e meia) e já um pouco tontos, ficámos até tarde gozando a noite, avistando das janelas da sala de jantar, um ou outro barco vindo de Belle Île que entrava sonolento no cais, o céu limpo e estrelado, gratos pela amizade que nos une há pelos menos quarenta anos.      

         - É quase certo que não voltarei a aceitar o convite de tantos anos para me alojar aqui. Dois anos depois (a Covid pelo meio) encontrei a minha amiga num estado de degradação física e mental considerável. Pobre Annie! Tudo o que ela foi de bom e de mau está ampliado e o resultado nem dá para descrever. Confrange-me vê-la assim e, sobretudo, não quero sofrer eu próprio com o seu triste efeito. Não tenho necessidade de vir a Paris todos os anos ou, se vier, será por uma semana e nesse caso qualquer pequeno hotel me satisfaz.

         - Aqui, depois de uma viagem sublime de sol e temperatura quase como a nossa, choveu a noite passada mas hoje o sol voltou a sorrir. Largos grupos de veraneantes passeando na marginal que acompanha o friso de casas em frente ao areal onde uns quantos se expõem ao sol tímido. Na praça Hoche onde me encontro a trabalhar, reina um ar de confiança e toda a gente sem máscara se cumprimenta como antigamente. Quiberon teve uma das taxas mais altas de covid, mas o mal parece não assustar estas almas adoradoras da vida pujante.