sábado, novembro 13, 2021

Sábado, 13. 

Fomos de abalada de carro ao longo da costa Penthièvres, Carnac, La Trinité sur mer. Chuviscava e o mar tinha-se recolhido para lá do areal numa atitude pouco vulgar nele, orgulhoso e violento como quase sempre se apresenta. Entre a primeira e a segunda povoação, perdido na lonjura da animação destes lugares de veraneio, encontra-se o enorme convento beneditino construído no séc. XIX, Saint-Michel de Kergonan. Uma belíssima construção em pedra daqui, de formas harmoniosas, elegantes, sobre o comprido, com belas flechas de cada lado. Ali vivem uma vintena monjas espero que em clausura suave porque o lugar a isso convida, com o seu jardim e o silêncio que reina sobre uma vasta área muito bem arborizada. Do outro lado, existe outra abadia que abriga dezanove monges, dita de Sainte-Anne de Kergonan. Ali existe uma igreja onde o recolhimento me impressionou à hora da missa das 18 horas. O público apenas tem acesso aos actos litúrgicos e à majestosa livraria com obras religiosas e não só e onde me tentei a comprar um ícone feito pelos residentes. À hora a que chegámos, os dois cenóbios preparavam-se para cerrar portas ao público e o frade que geria esta unidade, convidou-nos a sermos breves. Pena. Ficar por largo tempo a respirar aquela atmosfera etérea, cheia de memórias, edificada na devoção a Deus, respirar o ar puro, longe da banalidade dos nossos dias, recheados da impureza que desorienta e nos conduz  à monotonia dos dias frouxos e cruéis, levantados das cinzas deixadas por políticos ocos, seria para mim a impregnação de ideais que estão na origem de um mundo que os governantes tudo fazem para denegrir e substituir por outro onde reina a desorientação, a insanidade, a banalização do ser humano enquanto criação divina. Um pouco adiante, pela terceira vez, fui ver o alinhamento dos 3000 megálitos, lugar de mortos, lembrança de um tempo que respeitava os que partiam na singeleza e robustez das pedras que se mantêm de pé e são na sua forma o respeito que devemos aos nossos antepassados. 

         - A Laure quis oferecer-nos o jantar. Escolhemos um restaurante, não distante da creperie onde eu os havia convidado na véspera. Com a descida da noite, veio o frio e no interior cheio de comensais, estava-se bem entretidos a devorar um tacho de mexilhões que daria para uma dezena de pessoas. Menos alegre do que o da noite anterior, os que ali jantavam parecia que murmuravam coisas indecentes entre si. A sala era varrida por um ligeiro sussurro de segredos que só a noite conhece.