Sexta, 21.
Li
com interesse a tradução do Livro de Job feita por Frederico Lourenço. Eu sei
que a maioria dos textos bíblicos do Antigo Testamento são uma manta de
retalhos de difícil compreensão. Não ignoro que todas as confissões, puxaram
como se costuma dizer a brasa à sua sardinha, mas no caso presente, saído do
grego na versão de um erudito honesto, o fabuloso testemunho de Job deixou-me
perplexo e com curiosidade de voltar a relê-lo na versão latina. Esta
parece-me, como direi, mais composta, com melhor ritmo e compreensão, usando
até passagens de uma beleza que não encontrei na presente edição da Quetzal. Dito
isto, do muito que já li, somando os séculos que trouxeram até nós estes textos
sagrados, cópia de cópia, a partir da Bíblia dos Setenta, portanto traduzidos,
acrescentados, interpretados, cortados e remendados, o que fica como certeza e
salvação da nossa crença, é que eles com ligeiras alterações, conservam a mesma
revelação, a mesma verdade, o mesmo sentido profundo da palavra divina, a mesma
unidade. Acresce que não deve ser nada fácil traduzir o grego falado pelos soldados
de Alexandre o Grande, onde residia na inflexão oral - consoantes e ditongos -,
a transcrição da palavra escrita. É por isso, que me curvo de reconhecimento diante
do helenista. Só um grande amor à cultura e talvez no seu coração uma dose
secreta de fé, torna possível que Frederico Lourenço se tenha dado ao hercúleo
trabalho desta edição.
- O plágio nunca foi bom e pode mesmo
indicar um crime. Foi o caso previsível dos coletes amarelos portugueses. Aquilo
foi uma desolação, um folclore sem nexo, que terminou quando começou, deixando
a vitória a António Costa, aos partidos, às centrais sindicais e a todos os que
acreditam na magia do grande prestidigitador. Fazer o que fazem os “gilets
jaunes” pressupõe conhecimento, organização, consciência social e política, um
século de democracia e um pendor colectivo que nós não temos. Marchamos pelo
futebol, somos, inclusive, violentos com os jogadores, revoltamo-nos com coisas
comezinhas, vamos a Fátima em sofrimento e convicção, mas não somos capazes de
fazer valer os nossos direitos, construir um país civilizado, desenvolvido,
onde todos tenham o seu lugar e a concórdia seja una, no respeito pelo outro e
nos valores verdadeiramente democráticos. Gostamos que nos agridam, tememos
quem fala alto, amochamos diante do governante de passagem, não interiorizámos
ainda o regime democrático. Pertencemos aos idos anos do salazarismo e sem
cultura, pacóvios e analfabetos, pelintras e desgraçados, estamos por muitos e
longos anos subjugados aos ditadores disfarçados de democratas. Eles
enriquecem, nós empobrecemos. Eles mandam, nós obedecemos. Eles roubam, nós
deixamos roubar. Eles vivem à grande e à
francesa, nós ao jeito mexicano. Eles pertencem à aristocracia, nós à plebe. Eles
são os senhores, nós os seus escravos. Portugal nunca será verdadeiramente
democrático porque tem um povo atrasado de séculos.