sexta-feira, dezembro 21, 2018

Sexta, 21.
Li com interesse a tradução do Livro de Job feita por Frederico Lourenço. Eu sei que a maioria dos textos bíblicos do Antigo Testamento são uma manta de retalhos de difícil compreensão. Não ignoro que todas as confissões, puxaram como se costuma dizer a brasa à sua sardinha, mas no caso presente, saído do grego na versão de um erudito honesto, o fabuloso testemunho de Job deixou-me perplexo e com curiosidade de voltar a relê-lo na versão latina. Esta parece-me, como direi, mais composta, com melhor ritmo e compreensão, usando até passagens de uma beleza que não encontrei na presente edição da Quetzal. Dito isto, do muito que já li, somando os séculos que trouxeram até nós estes textos sagrados, cópia de cópia, a partir da Bíblia dos Setenta, portanto traduzidos, acrescentados, interpretados, cortados e remendados, o que fica como certeza e salvação da nossa crença, é que eles com ligeiras alterações, conservam a mesma revelação, a mesma verdade, o mesmo sentido profundo da palavra divina, a mesma unidade. Acresce que não deve ser nada fácil traduzir o grego falado pelos soldados de Alexandre o Grande, onde residia na inflexão oral - consoantes e ditongos -, a transcrição da palavra escrita. É por isso, que me curvo de reconhecimento diante do helenista. Só um grande amor à cultura e talvez no seu coração uma dose secreta de fé, torna possível que Frederico Lourenço se tenha dado ao hercúleo trabalho desta edição.


         - O plágio nunca foi bom e pode mesmo indicar um crime. Foi o caso previsível dos coletes amarelos portugueses. Aquilo foi uma desolação, um folclore sem nexo, que terminou quando começou, deixando a vitória a António Costa, aos partidos, às centrais sindicais e a todos os que acreditam na magia do grande prestidigitador. Fazer o que fazem os “gilets jaunes” pressupõe conhecimento, organização, consciência social e política, um século de democracia e um pendor colectivo que nós não temos. Marchamos pelo futebol, somos, inclusive, violentos com os jogadores, revoltamo-nos com coisas comezinhas, vamos a Fátima em sofrimento e convicção, mas não somos capazes de fazer valer os nossos direitos, construir um país civilizado, desenvolvido, onde todos tenham o seu lugar e a concórdia seja una, no respeito pelo outro e nos valores verdadeiramente democráticos. Gostamos que nos agridam, tememos quem fala alto, amochamos diante do governante de passagem, não interiorizámos ainda o regime democrático. Pertencemos aos idos anos do salazarismo e sem cultura, pacóvios e analfabetos, pelintras e desgraçados, estamos por muitos e longos anos subjugados aos ditadores disfarçados de democratas. Eles enriquecem, nós empobrecemos. Eles mandam, nós obedecemos. Eles roubam, nós deixamos roubar.  Eles vivem à grande e à francesa, nós ao jeito mexicano. Eles pertencem à aristocracia, nós à plebe. Eles são os senhores, nós os seus escravos. Portugal nunca será verdadeiramente democrático porque tem um povo atrasado de séculos.