Sábado,
8.
O
Mágico não se cansa de apregoar que estamos ricos, que ele pôs Portugal na rota
da Europa e do mundo, com as cotações do país a subirem na bolsa do turismo
internacional. O povo lúcido e sofredor, com capacidade para olhar para a sua
própria miséria, aquele que vai ao supermercado, paga cada vez mais impostos,
tem menos saúde e justiça, vive a contar os patacos e trabalha exclusivamente para
o Estado, sabe que a propaganda não enche o prato, não paga os livros dos
filhos, não faz crescer o salário. O jornal Público diz na capa que estamos
cada vez mais pobres ao ponto de 70 mil famílias terem de ser auxiliadas com o
dinheiro que por caridade nos manda a União Europeia. Mas estas são a face
visível de uma imensa vaga de necessitados que se cifra em quase dois milhões
de pobres. Costa, se tivesse vergonha - não falo enquanto socialista que isso
não passa de um rótulo -, falo enquanto ser humano, dirigente político, devia
calar-se e trabalhar humildemente para acabar em primeiro lugar com esta
desgraça nacional. Devia respeitar todos por igual e sobretudo os que sofrem e
não têm capacidade de fazer as greves que por aí grassam. Há uma disparidade
abismal entre o mundo do Mágico e o das criaturas que trabalham ou vivem das
reformas miseráveis. Às que acima anotei, acrescentam-se entretanto mais as dos
ferroviários e dos carcereiros, provando que um país com tantos protestos, é um
país à beira do abismo – esta não é a pátria do Mágico.
- A pátria do Mágico é a que se
instalou na Assembleia. Aquele ninho de oportunistas, de falsificadores da
verdade, de corruptos e subservientes, esconde um mundo que raramente se deixa
ver. É o caso dos deputados que votam em nome dos ausentes, que inventam
viagens para acrescentar mais uns tostões ao já chorudo vencimento, dão moradas
falsas, rendimentos escassos e assim. Não lhes chega os 3 mil euros de
ordenado, mais as custas disto e daquilo, os quilómetros para o Parlamento
(todos nós vamos para o trabalho pagando do nosso bolso a deslocação, os
professores transferidos pagam casa, transportes...), o seguro de vida e saúde.
Tantas mordomias é o preço por estarem de joelhos e em silêncio, ou meneando a
cabeça em concordância com tudo o que lhes impõem os seus dirigentes. É verdade
que foram eleitos pelo povo, mas dentro da Assembleia esquecem-no de modo a poderem
manter o trem de vida a que somam cá fora mais uns milhares, uns; sem nunca
terem trabalhado na vida e dependentes da mina de ouro que o desemprego não dá,
outros.