sábado, dezembro 22, 2018

Sábado, 22.
Os gilets jaunes voltaram em força à rua. No noticiário da TV5Monde vi cenas violentas nos Campos Elísios com a Polícia. Eram menos, mas na sua dimensão extremamente fervorosos. Chou Chou, a coisa não terminou. Quem te avisa...

         - Antes de regressar a casa, entrei no Corte Inglês para comprar o jantar. Fugi espavorido e dando razão ao Mágico: somos ricos, que digo eu, ricaços.

         - Fui à Anchieta procurar o Simão que não apareceu. De caminho percorri a rua ladeada de livros de um lado e outro e como não podia deixar de ser, acabei comprando dois volumes um dos quais uma curiosidade que não conhecia: Inde de Romain Rolland.


        - Um pouco mais tarde encontrei-me com o Irmão na Brasileira. Objectivo: conhecer o célebre pernil de porco que ele me vem falando há anos. Para tanto, tomámos o eléctrico (2,90 euros!) no Chiado e seguimos por ali abaixo, Rua Victor Cordon, descendo à Rua da Conceição, atravessando as três artérias mais conhecidas da Baixa e começando a subir à catedral, passando ao lado Castelo de S. Jorge, o Miradouro e entrando pelas ruas estreitas em Alfama, seguindo até à Feira da Ladra ao lado direito e continuando a ascender para a Graça onde o transporte nos deixou no largo do mesmo nome. Dali ao Cantinho da Fátima são meia dúzia de passos. Não fomos os primeiros a abancar num restaurante modesto, para o género apresentável, onde um batalhão de damas de meia idade serviam os fregueses na sua maioria gente talvez ligada ao PCP, operários como já não se veem na capital. Eu, à cautela, conhecendo o meu artista preferido, achei conveniente ver para querer como Fr. Tomás. E o que vi deu-me voltas ao estômago. Aquela parte do animal, envolta em gordura espessa, acompanhada por batatas fritas untadas de óleo, era literalmente um nojo. Só de olhar o Carlos comer com tanto prazer, elevando os olhos ao céu bendizendo o bicho e o cozinheiro que o confeccionou, ele que ali vem sem falhar todos os sábados depois de anos idos, quase me deu vómitos. “Então o senhor, vai no pernil ou escolhe o cozido à portuguesa?” Estava aparvalhado e não consegui reagir à impetuosidade da servente. “Tem algum peixe? – Aqui só servimos carne, mas posso-lhe arranjar uns carapaus.” Entupi. “Já vejo que não foi boa ideia trazer-te aqui”, diz o Irmão sem despegar do apetite que o levava a pegar na carne e a mordê-la como se fosse um leão esfomeado. Como a empregada continuava ali espectada, pedi a lista. Do longo cardápio de carnes de bovinos e suínos, optei por uma costeleta do inventário sem me importar em saber a identidade do animal. Daí a instantes, chegou um pedaço de carne gigantesco que transbordava da travessa. Espantei-me e disse em ar de gozo à mulher: “Isto é para quantas pessoas?” Não me pareceu que ela tivesse gostado do gracejo porque a vi rodopiar chateada na direcção da copa. Atirei-me à peça, quero dizer, lasquei dois centímetros de um lado para o prato e mais uma colher de arroz e duas de batatas fritas que é veneno que gosto, mas não fui nunca habituado a comer. Estava almoçado. Carlos ainda queria lançar-se ao naco que deixei, mas eu adverti-o do perigo para a saúde. Ele, por uma vez, encolheu-se. Rematei aquele frugal repasto com uma maçã assada que estava excelente. O melhor estava para acontecer. Quando fui ao balcão para pagar a conta, o homem de serviço cobrou-me 7,5 euros!! O Carlos no caminho pedestre para a Feira da Ladra, informou-me que era o preço da casa. Depois...