Sábado, 22.
Os
gilets jaunes voltaram em força à rua. No noticiário da TV5Monde vi cenas
violentas nos Campos Elísios com a Polícia. Eram menos, mas na sua dimensão
extremamente fervorosos. Chou Chou, a coisa não terminou. Quem te avisa...
- Antes de regressar a casa, entrei no
Corte Inglês para comprar o jantar. Fugi espavorido e dando razão ao Mágico:
somos ricos, que digo eu, ricaços.
- Fui à Anchieta procurar o Simão que não
apareceu. De caminho percorri a rua ladeada de livros de um lado e outro e como
não podia deixar de ser, acabei comprando dois volumes um dos quais uma
curiosidade que não conhecia: Inde de
Romain Rolland.
- Um pouco mais tarde encontrei-me com
o Irmão na Brasileira. Objectivo: conhecer o célebre pernil de porco que ele me
vem falando há anos. Para tanto, tomámos o eléctrico (2,90 euros!) no Chiado e
seguimos por ali abaixo, Rua Victor Cordon, descendo à Rua da Conceição,
atravessando as três artérias mais conhecidas da Baixa e começando a subir à
catedral, passando ao lado Castelo de S. Jorge, o Miradouro e entrando pelas
ruas estreitas em Alfama, seguindo até à Feira da Ladra ao lado direito e
continuando a ascender para a Graça onde o transporte nos deixou no largo do
mesmo nome. Dali ao Cantinho da Fátima são meia dúzia de passos. Não fomos os
primeiros a abancar num restaurante modesto, para o género apresentável, onde
um batalhão de damas de meia idade serviam os fregueses na sua maioria gente
talvez ligada ao PCP, operários como já não se veem na capital. Eu, à cautela,
conhecendo o meu artista preferido, achei conveniente ver para querer como Fr.
Tomás. E o que vi deu-me voltas ao estômago. Aquela parte do animal, envolta em
gordura espessa, acompanhada por batatas fritas untadas de óleo, era
literalmente um nojo. Só de olhar o Carlos comer com tanto prazer, elevando os
olhos ao céu bendizendo o bicho e o cozinheiro que o confeccionou, ele que ali
vem sem falhar todos os sábados depois de anos idos, quase me deu vómitos.
“Então o senhor, vai no pernil ou escolhe o cozido à portuguesa?” Estava
aparvalhado e não consegui reagir à impetuosidade da servente. “Tem algum
peixe? – Aqui só servimos carne, mas posso-lhe arranjar uns carapaus.” Entupi.
“Já vejo que não foi boa ideia trazer-te aqui”, diz o Irmão sem despegar do
apetite que o levava a pegar na carne e a mordê-la como se fosse um leão
esfomeado. Como a empregada continuava ali espectada, pedi a lista. Do longo
cardápio de carnes de bovinos e suínos, optei por uma costeleta do inventário
sem me importar em saber a identidade do animal. Daí a instantes, chegou um
pedaço de carne gigantesco que transbordava da travessa. Espantei-me e disse em
ar de gozo à mulher: “Isto é para quantas pessoas?” Não me pareceu que ela
tivesse gostado do gracejo porque a vi rodopiar chateada na direcção da copa.
Atirei-me à peça, quero dizer, lasquei dois centímetros de um lado para o prato
e mais uma colher de arroz e duas de batatas fritas que é veneno que gosto, mas
não fui nunca habituado a comer. Estava almoçado. Carlos ainda queria lançar-se
ao naco que deixei, mas eu adverti-o do perigo para a saúde. Ele, por uma vez,
encolheu-se. Rematei aquele frugal repasto com uma maçã assada que estava
excelente. O melhor estava para acontecer. Quando fui ao balcão para pagar a
conta, o homem de serviço cobrou-me 7,5 euros!! O Carlos no caminho pedestre
para a Feira da Ladra, informou-me que era o preço da casa. Depois...