Domingo,
9.
Como
se o trabalho não me faltasse, estou a ler o original do romance da minha amiga
Eliette Michaud, La Conjuration. Aceitei
a tarefa dizendo-lhe que não esperasse de mim elogios cínicos ou indulgência.
Sou apologista da verdade, convencido que é nas suas asas que nos aperfeiçoamos
e não no charco dos elogios politicamente correctos.
- O que se passou ontem em França e
especialmente em Paris é a demonstração da inaptidão e da fraqueza de Chou Chou.
É fácil fazer o que ele ordenou se fizesse: pôr 80 mil polícias nas ruas e
carregar forte sobre os manifestantes. Mas não é desta forma que se governa e
alcança os objectivos políticos. De Gaulle que passou por situações
semelhantes, não chegou em nenhum momento a tanto. Chou Chou não evitou as
mesmas cenas, os mesmos carros incendiados, a destruição de montras e
mobiliário urbano, a barragem de auto-estradas, o tumulto nas grandes cidades. Pelo
menos 1000 “gilets jaunes” foram detidos, mas em todo o país estiveram 120 mil
e pedir a demissão de Emmanuel Macron. Porque é disso que se trata já. Ninguém
quer o banqueiro a governar a França. E isto é apenas o começo. A Bélgica, este
fim-de-semana, passou por idênticos protestos. Cidadãos, de colete amarelo
vestido, enfrentaram a Polícia nas ruas de Bruxelas. Em todo o lado, trabalhar,
viver exclusivamente para pagar impostos, tornou-se motivo de cólera e raiva que
ninguém está disposto a suportar. Mas o mais curioso (o jornal Público de hoje
mostra-o à evidência) é ler o que dizem os nossos comentadores sobre Macron e
confrontar com o que escreveram o ano passado. Para os nossos jornalistas de
serviço, o homem era o De Gaulle da Europa, com ideias e juventude bastante
para duplicar a senhora Merkel e injectar na União Europeia o sangue novo do
novo capitalismo. O resultado aí está.
- Há registo de pelo menos seis mortos
e mais de 100 feridos numa discoteca em Ancona, Itália. Eram jovens que
assistiam ao concerto do seu ídolo e a Polícia suspeita que foi motivado por
gás lacrimogénio.
- As redes soais são uma enorme via-láctea
de idiotices, caganças e mediocridades. Possuem, todavia, a magia de nos ligar
ao vasto mundo dos mortais e em segundos pôr-nos a par das revoltas, dos
consensos, das cargas policiais injustas, da arrogância dos governantes, da
corrupção, do jogo de interesses, do desenho do ditador trajando a casula do
democrata, et caetera. É, portanto,
natural que a consciencialização das massas se faça mais rapidamente, se copiem
modelos, identidades. Talvez não tanto pela absorção do conhecimento
político-social, mas enquanto identificação de grupo, de classe social e
geração. Seja como for, ninguém pode ignorar a sua força, as ordens daí
emanadas, o grito de revolta. As redes sociais, podem até exercer sobre os
políticos incorruptos, uma qualquer forma de comando e conhecimento da
realidade útil às acções a desenvolver. Já não basta andar de terra em terra a
pregar a mentira, o sonho, a fantasia ideológica, é preciso interiorizar que
governar é trabalhar para a comunidade e não para os interesses partidários, o
mesmo é dizer a construção da mentira em catadupa.