domingo, dezembro 09, 2018

Domingo, 9.
Como se o trabalho não me faltasse, estou a ler o original do romance da minha amiga Eliette Michaud, La Conjuration. Aceitei a tarefa dizendo-lhe que não esperasse de mim elogios cínicos ou indulgência. Sou apologista da verdade, convencido que é nas suas asas que nos aperfeiçoamos e não no charco dos elogios politicamente correctos.

         - O que se passou ontem em França e especialmente em Paris é a demonstração da inaptidão e da fraqueza de Chou Chou. É fácil fazer o que ele ordenou se fizesse: pôr 80 mil polícias nas ruas e carregar forte sobre os manifestantes. Mas não é desta forma que se governa e alcança os objectivos políticos. De Gaulle que passou por situações semelhantes, não chegou em nenhum momento a tanto. Chou Chou não evitou as mesmas cenas, os mesmos carros incendiados, a destruição de montras e mobiliário urbano, a barragem de auto-estradas, o tumulto nas grandes cidades. Pelo menos 1000 “gilets jaunes” foram detidos, mas em todo o país estiveram 120 mil e pedir a demissão de Emmanuel Macron. Porque é disso que se trata já. Ninguém quer o banqueiro a governar a França. E isto é apenas o começo. A Bélgica, este fim-de-semana, passou por idênticos protestos. Cidadãos, de colete amarelo vestido, enfrentaram a Polícia nas ruas de Bruxelas. Em todo o lado, trabalhar, viver exclusivamente para pagar impostos, tornou-se motivo de cólera e raiva que ninguém está disposto a suportar. Mas o mais curioso (o jornal Público de hoje mostra-o à evidência) é ler o que dizem os nossos comentadores sobre Macron e confrontar com o que escreveram o ano passado. Para os nossos jornalistas de serviço, o homem era o De Gaulle da Europa, com ideias e juventude bastante para duplicar a senhora Merkel e injectar na União Europeia o sangue novo do novo capitalismo. O resultado aí está.

         - Há registo de pelo menos seis mortos e mais de 100 feridos numa discoteca em Ancona, Itália. Eram jovens que assistiam ao concerto do seu ídolo e a Polícia suspeita que foi motivado por gás lacrimogénio.


         - As redes soais são uma enorme via-láctea de idiotices, caganças e mediocridades. Possuem, todavia, a magia de nos ligar ao vasto mundo dos mortais e em segundos pôr-nos a par das revoltas, dos consensos, das cargas policiais injustas, da arrogância dos governantes, da corrupção, do jogo de interesses, do desenho do ditador trajando a casula do democrata, et caetera. É, portanto, natural que a consciencialização das massas se faça mais rapidamente, se copiem modelos, identidades. Talvez não tanto pela absorção do conhecimento político-social, mas enquanto identificação de grupo, de classe social e geração. Seja como for, ninguém pode ignorar a sua força, as ordens daí emanadas, o grito de revolta. As redes sociais, podem até exercer sobre os políticos incorruptos, uma qualquer forma de comando e conhecimento da realidade útil às acções a desenvolver. Já não basta andar de terra em terra a pregar a mentira, o sonho, a fantasia ideológica, é preciso interiorizar que governar é trabalhar para a comunidade e não para os interesses partidários, o mesmo é dizer a construção da mentira em catadupa.