Sábado,
15.
A
propósito das origens dos tumultos em França. Como sabemos na sua origem estão
os aumentos dos combustíveis. O Estado francês como o nosso e tantos outros,
empurrados por lóbis, sem conhecimentos bastantes nem vontade ou tempo para se
documentarem, em alguns casos enganando-nos dizendo que as percentagens
adicionais são para proteger o Planeta e construir novas formas mais limpas de
sustentação da vida na terra. Impõem-nos a compra de carros eléctricos, dão-nos
prazos, multas em consequência, enfim, a habitual anormalidade que o poder
utiliza para vergar o cidadão. A moda é convencer o automobilista a mudar, a
deixar de utilizar o carro, deslocando-se nos transportes públicos que não
existem, numa tirania imposta por Bruxelas, como se os países não fossem há
milénios independentes e não devessem pensar pela sua cabeça.
Claro que a montante está impecável a
máquina das multinacionais, dos interesses do grande capital que não renuncia
uma grama à panóplia de acções impostas ao cidadão, perdão, consumidor. Quando,
se os Estados fossem independentes e competentes, deveriam atacar na fonte os
males que tanto mal causam às nossas vidas. É lá na indústria sem controlo, na
sociedade de consumo sequiosa do lucro e produção sem lei nem roque, que reside
o desequilíbrio que nos irá matar a todos. Produz-se sem qualquer valor
acrescentado do ponto de vista do avanço tecnológico, apenas para sustentar o
lucro aberrante que fica nas mãos de 2 por cento de capitalistas que não olham
ao “buraco de ozono”, se estão nas tintas para as abalos meteorológicos, as
tragédias cada vez mais frequentes que empobrecem milhões de pessoas e matam
milhares. A globalização, curiosamente, vai contribuir para que uma substancial
parte do mundo, regrida e comece o retorno às origens deixando para trás o
progresso que só serviu a uns quantos.
O desvario é tal, que os políticos
analfabetos nem se dão conta do logro em que caíram e ao tombarem arrastam
consigo milhões de pessoas inocentes que neles confiaram. Mentem por procuração
ao dizerem, por exemplo, que os automóveis eléctricos são mais limpos e
económicos. Olvidam por ignorância e ligeireza que só a bateria desses carros,
que durará dois/três anos, custa 3 mil euros e nem pensam se as centrais
nucleares e tradicionais, são suficientes para carregar os milhões de veículos
em circulação, para não falar nos milhões e milhões de toneladas de lata que é
preciso varrer da face da terra. Evidentemente, quem vai pagar esta mudança
forçada, vão ser os povos – o preço por quilovátio irá subir e deixará as
populações numa situação dramática.
Mais, quando a verdade vier à tona dos
negócios que sub-repticiamente se estão a alinhar, é a sociedade tal como a
conhecemos que vai deixar de existir. Uma outra sociedade substituirá a chamada
Revolução Industrial. Quando disserem ao cidadão amante do carro como elemento
promocional da sua importância, que vai ter que andar a pé ou em transportes
públicos atulhados de revoltados, aí é demasiado tarde para pôr nos carris da
verdade tudo o que ele não quis apreender. A sua existência vai sofrer um abalo
medonho, os seus dias alterados, desmanchados pelo poder de um núcleo restrito
de titãs, cuja vida não mudou e os lucros, pelo contrário, nunca foram tão
imoralmente favorecidos. Porque tudo isto está a ser metodicamente pensado,
lançado numa moda sem reflexão, que já dá muitos milhões a ganhar aos
apaixonados pelo Planeta que, defendo-o, auferem contrapartidas financeiras
abundantes.
Tanto assim é que os entendidos sabem
que esta moda do veículo eléctrico, está já em certa medida ultrapassada por
outras formas de energia que, ainda por cima, reaproveitam os triliões de triliões
de carros em circulação. Refiro-me, por exemplo, ao hidrogénio, a transformação
de certos entulhos em combustível e assim. Mas sobre isto tchiu! Em vez de
educarem as populações como alimentar-se, vestir-se, praticar a vida simples,
utilizar os meios urbanos em sentido colectivo, reaproveitar e reparar o que se
estraga, viver em consonância com a natureza, construir pela cultura a
identidade responsável sob a qual assenta o espírito crítico, a revolta e a
lucidez, enganam-nos com a fantasia deplorável que somos todos iguais e devemos
usufruir dos bens terrenos em pé de igualdade.
- Eu não acho, atendendo à folha de
vida do homicida de Estrasburgo, que ele tenha levado a cabo os seus actos
hediondos por mando ou simpatia do Daesh. Estou mais inclinado a ver em toda a
tragédia um desajuste social que as diversas prisões ampliaram em vez de tentarem
regularizar. O impropriamente denominado Estado Islâmico aproveita-se da
circunstância para dizer que continua vivo.