sábado, dezembro 15, 2018

Sábado, 15.
A propósito das origens dos tumultos em França. Como sabemos na sua origem estão os aumentos dos combustíveis. O Estado francês como o nosso e tantos outros, empurrados por lóbis, sem conhecimentos bastantes nem vontade ou tempo para se documentarem, em alguns casos enganando-nos dizendo que as percentagens adicionais são para proteger o Planeta e construir novas formas mais limpas de sustentação da vida na terra. Impõem-nos a compra de carros eléctricos, dão-nos prazos, multas em consequência, enfim, a habitual anormalidade que o poder utiliza para vergar o cidadão. A moda é convencer o automobilista a mudar, a deixar de utilizar o carro, deslocando-se nos transportes públicos que não existem, numa tirania imposta por Bruxelas, como se os países não fossem há milénios independentes e não devessem pensar pela sua cabeça.

         Claro que a montante está impecável a máquina das multinacionais, dos interesses do grande capital que não renuncia uma grama à panóplia de acções impostas ao cidadão, perdão, consumidor. Quando, se os Estados fossem independentes e competentes, deveriam atacar na fonte os males que tanto mal causam às nossas vidas. É lá na indústria sem controlo, na sociedade de consumo sequiosa do lucro e produção sem lei nem roque, que reside o desequilíbrio que nos irá matar a todos. Produz-se sem qualquer valor acrescentado do ponto de vista do avanço tecnológico, apenas para sustentar o lucro aberrante que fica nas mãos de 2 por cento de capitalistas que não olham ao “buraco de ozono”, se estão nas tintas para as abalos meteorológicos, as tragédias cada vez mais frequentes que empobrecem milhões de pessoas e matam milhares. A globalização, curiosamente, vai contribuir para que uma substancial parte do mundo, regrida e comece o retorno às origens deixando para trás o progresso que só serviu a uns quantos.

         O desvario é tal, que os políticos analfabetos nem se dão conta do logro em que caíram e ao tombarem arrastam consigo milhões de pessoas inocentes que neles confiaram. Mentem por procuração ao dizerem, por exemplo, que os automóveis eléctricos são mais limpos e económicos. Olvidam por ignorância e ligeireza que só a bateria desses carros, que durará dois/três anos, custa 3 mil euros e nem pensam se as centrais nucleares e tradicionais, são suficientes para carregar os milhões de veículos em circulação, para não falar nos milhões e milhões de toneladas de lata que é preciso varrer da face da terra. Evidentemente, quem vai pagar esta mudança forçada, vão ser os povos – o preço por quilovátio irá subir e deixará as populações numa situação dramática.

        Mais, quando a verdade vier à tona dos negócios que sub-repticiamente se estão a alinhar, é a sociedade tal como a conhecemos que vai deixar de existir. Uma outra sociedade substituirá a chamada Revolução Industrial. Quando disserem ao cidadão amante do carro como elemento promocional da sua importância, que vai ter que andar a pé ou em transportes públicos atulhados de revoltados, aí é demasiado tarde para pôr nos carris da verdade tudo o que ele não quis apreender. A sua existência vai sofrer um abalo medonho, os seus dias alterados, desmanchados pelo poder de um núcleo restrito de titãs, cuja vida não mudou e os lucros, pelo contrário, nunca foram tão imoralmente favorecidos. Porque tudo isto está a ser metodicamente pensado, lançado numa moda sem reflexão, que já dá muitos milhões a ganhar aos apaixonados pelo Planeta que, defendo-o, auferem contrapartidas financeiras abundantes.

         Tanto assim é que os entendidos sabem que esta moda do veículo eléctrico, está já em certa medida ultrapassada por outras formas de energia que, ainda por cima, reaproveitam os triliões de triliões de carros em circulação. Refiro-me, por exemplo, ao hidrogénio, a transformação de certos entulhos em combustível e assim. Mas sobre isto tchiu! Em vez de educarem as populações como alimentar-se, vestir-se, praticar a vida simples, utilizar os meios urbanos em sentido colectivo, reaproveitar e reparar o que se estraga, viver em consonância com a natureza, construir pela cultura a identidade responsável sob a qual assenta o espírito crítico, a revolta e a lucidez, enganam-nos com a fantasia deplorável que somos todos iguais e devemos usufruir dos bens terrenos em pé de igualdade.


          - Eu não acho, atendendo à folha de vida do homicida de Estrasburgo, que ele tenha levado a cabo os seus actos hediondos por mando ou simpatia do Daesh. Estou mais inclinado a ver em toda a tragédia um desajuste social que as diversas prisões ampliaram em vez de tentarem regularizar. O impropriamente denominado Estado Islâmico aproveita-se da circunstância para dizer que continua vivo.