segunda-feira, novembro 06, 2017

Segunda, 6.
Antes de deixar Lisboa, comprei o terceiro volume da Bíblia transposto da Septuaginta  por Frederico Lourenço. São 1000 páginas com que o magnífico tradutor começa o Antigo Testamento. O volumoso livro possui uma cinta com este excerto de António Lobo Antunes: “O importante é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na reduzida prateleira da Grande Arte da nossa Literatura. Como português agradeço do coração a Frederico Lourenço. Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A Arte não é um desporto de competição e a Casa do Pai tem muitas moradas.” Não sendo leitor do Escritor (não porque considere os seus livros “uma merda”, quando muito pequenos campos de concentração), lendo estas palavras, apetece-me correr a abraçá-lo, comovido. O texto revela-o contra a sua vontade.  

         - Quinta-feira, quando regressava a casa no comboio da Fertagus tive, eu e todos os que viajavam na mesma carruagem, direito a um concerto espectacular de canções românticas. Eu explico. A meio do vagão havia-se instalado um grupo de espanhóis que mais tarde soube serem estudantes de medicina, ao todo para cima de uma dúzia. Trajados com uma espécie de calças ajustadas nos tornozelos com um nastro acetinado e capas negras fechadas com uma gola amarela, guitarras e, sobretudo, vozes afinadas, alegria contagiante, simpatia para dar e vender, só paravam para encadear outro trecho. Todas as canções falavam do amor por uma negrita, ou outra mulher de olhos negros e assim, muito bem preparados musicalmente todos sabiam música a sério. O curioso porém, é que todos eles aproveitando um trinado melhor conseguido, logo beijavam o artista; se outro subia os agudos  os mantinha por mais tempo lá no alto, recebia também um beijo, enfim, por tudo e por nada aquilo eram beijocas repolhudas de espantar o português desconfiado de semelhante turma... Eu saí onde costumo sair, tristíssimo. Eles continuaram enchendo o trem de música (da boa) de uma atracção irresistível.  

         - Regressei à escrita. Tão penosamente que em três horas não consegui mais do que meia página mesmo assim de qualidade duvidosa.

         - Terminada a leitura de um livro, dou-me conta que cada vez sei menos – por isso começo logo outro. 


         - É próprio dos fracos utilizarem a força. Rajoy não é só débil, é também violento, arrogante, prepotente e pretende impor-se em bicos de pés de modo a esconder os processos de corrupção a que está ligado. Por outro lado, é anti-democrático porque vai fazer eleições na Catalunha estando presos aqueles que o povo elegeu para seus governantes.