Segunda,
6.
Antes
de deixar Lisboa, comprei o terceiro volume da Bíblia transposto da Septuaginta por Frederico Lourenço. São 1000
páginas com que o magnífico tradutor começa o Antigo Testamento. O volumoso
livro possui uma cinta com este excerto de António Lobo Antunes: “O importante
é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na
reduzida prateleira da Grande Arte da nossa Literatura. Como português agradeço
do coração a Frederico Lourenço. Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A
Arte não é um desporto de competição e a Casa do Pai tem muitas moradas.” Não sendo
leitor do Escritor (não porque considere os seus livros “uma merda”, quando
muito pequenos campos de concentração), lendo estas palavras, apetece-me correr
a abraçá-lo, comovido. O texto revela-o contra a sua vontade.
- Quinta-feira, quando regressava a
casa no comboio da Fertagus tive, eu e todos os que viajavam na mesma
carruagem, direito a um concerto espectacular de canções românticas. Eu
explico. A meio do vagão havia-se instalado um grupo de espanhóis que mais
tarde soube serem estudantes de medicina, ao todo para cima de uma dúzia. Trajados
com uma espécie de calças ajustadas nos tornozelos com um nastro acetinado e
capas negras fechadas com uma gola amarela, guitarras e, sobretudo, vozes
afinadas, alegria contagiante, simpatia para dar e vender, só paravam para
encadear outro trecho. Todas as canções falavam do amor por uma negrita, ou
outra mulher de olhos negros e assim, muito bem preparados musicalmente todos
sabiam música a sério. O curioso porém, é que todos eles aproveitando um trinado
melhor conseguido, logo beijavam o artista; se outro subia os agudos os mantinha por mais tempo lá no alto,
recebia também um beijo, enfim, por tudo e por nada aquilo eram beijocas
repolhudas de espantar o português desconfiado de semelhante turma... Eu saí
onde costumo sair, tristíssimo. Eles continuaram enchendo o trem de música (da
boa) de uma atracção irresistível.
- Regressei à escrita. Tão penosamente
que em três horas não consegui mais do que meia página mesmo assim de qualidade
duvidosa.
- Terminada a leitura de um livro,
dou-me conta que cada vez sei menos – por isso começo logo outro.
- É próprio dos fracos utilizarem a
força. Rajoy não é só débil, é também violento, arrogante, prepotente e
pretende impor-se em bicos de pés de modo a esconder os processos de corrupção
a que está ligado. Por outro lado, é anti-democrático porque vai fazer eleições
na Catalunha estando presos aqueles que o povo elegeu para seus governantes.