Sábado,
25.
Deixámos
Quiberon de manhã para Paris onde acabámos de chegar. Para trás ficou a cidade
simpática, que vive ao ritmo lento do Inverno, de trancas nas portas, entregue
aos genuínos habitantes, rodeada do oceano que barafusta sacudido pelo vento, o
encantador mercado de rua aos sábados, com suas ruelas estreitas que descem na
direcção do mar, cheias de pequenos cafés acolhedores, berço de muitos homens
ilustres, de outros bravos cidadãos que comungam dos regimes liberais ou
capitalistas, católicos na sua maioria, tementes a Deus a quase totalidade. Penso
já nas noites recostado no espaldar da cama a ler, embalado pelo vento forte
acompanhado dos gritos das ondas a bater no areal, ou na Brasserie Hosche onde
passei momentos inolvidáveis a trabalhar, intervalados com instantes de pausa
para admirar a praça, o friso de lojas do outro lado, a estátua do grande homem
ao centro, o traçado das ruas onde de quando em vez passava um carro a caminho
do paredão construído ao longo da praia. Recordo já com saudade os nossos
passeios pedestres diários, Robert e eu, que começavam no edifício Talassa onde
antes a Annie ia pagando 7 mil euros uma semana, para nos sumirmos nas dunas
por um carreiro construído para os meditativos como nós, entre mar e terra
selvagem, coberta de pedras com formas bizarras, um mundo geológico que se
confunde com a água que a ele chega para o acariciar e retornar à origem vestida
das cores de cada seixo, de cada galho de árvore, de cada náufrago... Mais
além, quando a água abraça as duas margens deixando baixas ilhas cobertas de
densa vegetação, pinheiros e valados, flora variada com cheiros fortes a
maresia e algas, encontramos o mundo do silêncio emaranhado nos destroços de
vendavais, de grandes ondas destruidoras, verdadeiras catedrais a céu aberto,
onde no Verão os amorosos virão viver as sensações fortes que cobrem os corpos
virgens e são pela beleza dos instantes a imagem derradeira do Atlântico
cúmplice daqueles que ousam convidá-lo para a festa da ressurreição da vida.
- Um extermino no Egipto à hora da
oração numa mesquita do Sinai. Saldo até ao momento: 300 mortos, mais de uma
centena de feridos. Os fiéis saíam duma mesquita sufi quando foram atacados à bomba
e com balas. Os assassinos são os mesmos: o incorrectamente denominado estado islâmico.
Sisi, o presidente, prometeu vigança. Assim vai o nosso mundo, aos 25 dias
andados do mês de Novembro do ano 2017.