sábado, novembro 25, 2017

Sábado, 25.
Deixámos Quiberon de manhã para Paris onde acabámos de chegar. Para trás ficou a cidade simpática, que vive ao ritmo lento do Inverno, de trancas nas portas, entregue aos genuínos habitantes, rodeada do oceano que barafusta sacudido pelo vento, o encantador mercado de rua aos sábados, com suas ruelas estreitas que descem na direcção do mar, cheias de pequenos cafés acolhedores, berço de muitos homens ilustres, de outros bravos cidadãos que comungam dos regimes liberais ou capitalistas, católicos na sua maioria, tementes a Deus a quase totalidade. Penso já nas noites recostado no espaldar da cama a ler, embalado pelo vento forte acompanhado dos gritos das ondas a bater no areal, ou na Brasserie Hosche onde passei momentos inolvidáveis a trabalhar, intervalados com instantes de pausa para admirar a praça, o friso de lojas do outro lado, a estátua do grande homem ao centro, o traçado das ruas onde de quando em vez passava um carro a caminho do paredão construído ao longo da praia. Recordo já com saudade os nossos passeios pedestres diários, Robert e eu, que começavam no edifício Talassa onde antes a Annie ia pagando 7 mil euros uma semana, para nos sumirmos nas dunas por um carreiro construído para os meditativos como nós, entre mar e terra selvagem, coberta de pedras com formas bizarras, um mundo geológico que se confunde com a água que a ele chega para o acariciar e retornar à origem vestida das cores de cada seixo, de cada galho de árvore, de cada náufrago... Mais além, quando a água abraça as duas margens deixando baixas ilhas cobertas de densa vegetação, pinheiros e valados, flora variada com cheiros fortes a maresia e algas, encontramos o mundo do silêncio emaranhado nos destroços de vendavais, de grandes ondas destruidoras, verdadeiras catedrais a céu aberto, onde no Verão os amorosos virão viver as sensações fortes que cobrem os corpos virgens e são pela beleza dos instantes a imagem derradeira do Atlântico cúmplice daqueles que ousam convidá-lo para a festa da ressurreição da vida.    


         - Um extermino no Egipto à hora da oração numa mesquita do Sinai. Saldo até ao momento: 300 mortos, mais de uma centena de feridos. Os fiéis saíam duma mesquita sufi quando foram atacados à bomba e com balas. Os assassinos são os mesmos: o incorrectamente denominado estado islâmico. Sisi, o presidente, prometeu vigança. Assim vai o nosso mundo, aos 25 dias andados do mês de Novembro do ano 2017.