segunda-feira, novembro 20, 2017

Segunda, 20.
Só não vê quem não quer. O Poder, concentrado na economia e no PIB, nos partidos e na propaganda, não se dá conta do que se passa fora dos seus proveitos imediatos. Assim, num total retrocesso ao passado, diante dos nossos olhos estupefactos, com as câmaras de televisão a filmar, homens africanos foram leiloados como escravos na Líbia. A Líbia que a França e Sarcosy ajudou, os Estados Unidos contribuíram para o derrube de Kadafi, todo o mundo pensando que era a democracia que se instalaria com o seu contributo, é hoje um país à deriva, onde se alojaram os assassinos, a desordem, o salve-quem-puder, onde o povo é tratado abaixo de cão e os grandes senhores da guerra enriquecem.

         - A fadiga da grande idade abate-se sobre a Annie, inexoravelmente. Quando cá estou, ajudo no que posso e quando ela deixa. Hoje fomos ao mercado de rua no centro de Saint-Denis. Annie levou consigo 30 euros, eu esqueci-me da carteira em casa. No final, no parque de estacionamento, nem ela nem eu tínhamos dois euros para pagar a saída do carro. Foi o funcionário que nos deu a importância que fez subir a barreira em direcção a casa. Chegados ao jardim, vimos Robert a quem eu contei a aventura que logo replicou: “Oh, là, là une dame milliardaire s´en un sous pour le parking!”

         - Um dos filhos de Annie, chegou da China onde vive há mais de vinte anos para se livrar dos fantasmas da adolescência. Voltou agora por conveniência, atraído pelos milhares que a mãe deu a cada descendente na sequência do leilão dos carros antigos. Vai ficar toda a semana. Esperemos que a estadia não termine como há nove anos em violência e ingratidão.

         - Estou completamente rendido ao talento de Klaus Mann. Com vinte e três anos escreve uma obra que só os escritores com muito mais idade e acumulação de conhecimentos de toda a ordem fazem. Alexandre, romance centrado naquele que foi o Rei dos Macedónios, é um prodígio de ritmo, pesquisa, imaginação e erudição histórica. Estou a ler ao ralenti o último capítulo. Não me apetece sair da sua escrita iluminada, da sua força imagética, da poesia que perpassa nas quase trezentas páginas do livro.


         - Saiu quinta-feira o 14ª volume do Diário de Gabriel Matzneff com o título La Jeune Moabite. Setecentas páginas que eu peguei e larguei por desajustadas (devido ao peso...) a seguir na mala do viajante.