Segunda,
20.
Só
não vê quem não quer. O Poder, concentrado na economia e no PIB, nos partidos e
na propaganda, não se dá conta do que se passa fora dos seus proveitos
imediatos. Assim, num total retrocesso ao passado, diante dos nossos olhos
estupefactos, com as câmaras de televisão a filmar, homens africanos foram
leiloados como escravos na Líbia. A Líbia que a França e Sarcosy ajudou, os
Estados Unidos contribuíram para o derrube de Kadafi, todo o mundo pensando que
era a democracia que se instalaria com o seu contributo, é hoje um país à
deriva, onde se alojaram os assassinos, a desordem, o salve-quem-puder, onde o
povo é tratado abaixo de cão e os grandes senhores da guerra enriquecem.
- A fadiga da grande idade abate-se
sobre a Annie, inexoravelmente. Quando cá estou, ajudo no que posso e quando
ela deixa. Hoje fomos ao mercado de rua no centro de Saint-Denis. Annie levou
consigo 30 euros, eu esqueci-me da carteira em casa. No final, no parque de
estacionamento, nem ela nem eu tínhamos dois euros para pagar a saída do carro.
Foi o funcionário que nos deu a importância que fez subir a barreira em
direcção a casa. Chegados ao jardim, vimos Robert a quem eu contei a aventura que logo replicou: “Oh, là, là une dame milliardaire s´en un sous pour le parking!”
- Um dos filhos de Annie, chegou da
China onde vive há mais de vinte anos para se livrar dos fantasmas da
adolescência. Voltou agora por conveniência, atraído pelos milhares que a mãe
deu a cada descendente na sequência do leilão dos carros antigos. Vai ficar
toda a semana. Esperemos que a estadia não termine como há nove anos em
violência e ingratidão.
- Estou completamente rendido ao
talento de Klaus Mann. Com vinte e três anos escreve uma obra que só os
escritores com muito mais idade e acumulação de conhecimentos de toda a ordem
fazem. Alexandre, romance centrado
naquele que foi o Rei dos Macedónios, é um prodígio de ritmo, pesquisa,
imaginação e erudição histórica. Estou a ler ao ralenti o último capítulo. Não
me apetece sair da sua escrita iluminada, da sua força imagética, da poesia que
perpassa nas quase trezentas páginas do livro.
- Saiu quinta-feira o 14ª volume do
Diário de Gabriel Matzneff com o título La
Jeune Moabite. Setecentas páginas que eu peguei e larguei por desajustadas (devido
ao peso...) a seguir na mala do viajante.