quarta-feira, novembro 08, 2017

Quarta, 8.
Outro dia, João Corregedor, falando de Lenine afirmava que ele não foi um ditador. Carlos e eu, à boca pequena, respondia-mos: “Não. Foi lá agora!” João desconhecia – o que é de todo improvável – a exortação do povo contra os kulaks, as detenções em massa, incluindo aqueles que Lenine dizia serem “os sabotadores milionários”, os Gulags, etc. etc. Aliás a sua acção foi depois amplamente desenvolvida por Estaline, com todo o corolário de milhões de mortos, ampliação dos gulags, trabalhos forçados, fome, terror e apropriação da arte como instrumento de propaganda e reforço das mentalidades populares. Que o diga Chtchoukine que sofreu a fúria das suas nacionalizações, a monopolização da sua fabulosa colecção de arte, em 1919. Estaline fez o resto: dispersou-a contra a vontade do industrial de tecidos, decretando que o povo não a compreendia.

         - É já lugar comum informar que um atirador de 26 anos, atirou sobre os fiéis de uma igreja Batista, matando 27 pessoas e ferindo outras tantas. Onde? Ora, nos Estados Unidos, Texas.

         - Leio no Público online, que subiu para 26 o número de casos de Legionella no Hospital de S. Francisco Xavier. A bactéria foi encontrada nas canalizações da água que, segundo o jornal, acumulam bactérias que podem matar os doentes mais vulneráveis. Quem nos acode! Estamos entregues ao laxismo, ao deixa andar, à indiferença pelas normas hospitalares. O importante é ganhar dinheiro com o mínimo trabalho, fins-de-semana como qualquer funcionário público, um doente não é mais nem menos que um qualquer miserável que por aí anda. Já nos falta o nosso competente e honesto Dr. Francisco Georges.

         - Por falar nele. Quando abandou o cargo de Director-Geral da Saúde, mandei-lhe um e-mail a agradecer-lhe o excelente trabalho de anos. Homem sensível, prontamente me agradeceu o gesto. Já não era a primeira vez que trocávamos correspondência electrónica e recordo-me do anterior e-mail e esta frase que diz tudo da sua personalidade: “O seu texto comoveu-me até às lágrimas.” Não é tão bonito! Não é um privilégio termos a governar-nos nobres deste quilate!

         - A mim não me escapa a obra de Klaus Mann. Onde quer que encontre um livro seu que não tenha lido, desembolso o que for necessário para o adquirir. Agorinha topei o romance juvenil Alexandre num alfarrabista da Rive Gauche.  


         - Estou sentado numa esplanada perto do Luxembourg onde tenho estado desde há duas horas a trabalhar. Tempo moche. Ontem ainda tivemos uns raios de sol e frio qb. Hoje este impreciso, nem frio nem calor, nem chuva nem dia claro. Como diria o João Corregedor, um tempo típico de Paris.