Quarta, 8.
Outro
dia, João Corregedor, falando de Lenine afirmava que ele não foi um ditador.
Carlos e eu, à boca pequena, respondia-mos: “Não. Foi lá agora!” João
desconhecia – o que é de todo improvável – a exortação do povo contra os
kulaks, as detenções em massa, incluindo aqueles que Lenine dizia serem “os sabotadores
milionários”, os Gulags, etc. etc. Aliás a sua acção foi depois amplamente
desenvolvida por Estaline, com todo o corolário de milhões de mortos, ampliação
dos gulags, trabalhos forçados, fome, terror e apropriação da arte como
instrumento de propaganda e reforço das mentalidades populares. Que o diga Chtchoukine
que sofreu a fúria das suas nacionalizações, a monopolização da sua fabulosa
colecção de arte, em 1919. Estaline fez o resto: dispersou-a contra a vontade
do industrial de tecidos, decretando que o povo não a compreendia.
- É já lugar comum informar que um
atirador de 26 anos, atirou sobre os fiéis de uma igreja Batista, matando 27
pessoas e ferindo outras tantas. Onde? Ora, nos Estados Unidos, Texas.
- Leio no Público online, que subiu
para 26 o número de casos de Legionella no Hospital de S. Francisco Xavier. A
bactéria foi encontrada nas canalizações da água que, segundo o jornal,
acumulam bactérias que podem matar os doentes mais vulneráveis. Quem nos acode!
Estamos entregues ao laxismo, ao deixa andar, à indiferença pelas normas
hospitalares. O importante é ganhar dinheiro com o mínimo trabalho,
fins-de-semana como qualquer funcionário público, um doente não é mais nem
menos que um qualquer miserável que por aí anda. Já nos falta o nosso
competente e honesto Dr. Francisco Georges.
- Por falar nele. Quando abandou o
cargo de Director-Geral da Saúde, mandei-lhe um e-mail a agradecer-lhe o
excelente trabalho de anos. Homem sensível, prontamente me agradeceu o gesto.
Já não era a primeira vez que trocávamos correspondência electrónica e
recordo-me do anterior e-mail e esta frase que diz tudo da sua personalidade:
“O seu texto comoveu-me até às lágrimas.” Não é tão bonito! Não é um privilégio
termos a governar-nos nobres deste quilate!
- A mim não me escapa a obra de Klaus
Mann. Onde quer que encontre um livro seu que não tenha lido, desembolso o que for
necessário para o adquirir. Agorinha topei o romance juvenil Alexandre num alfarrabista da Rive
Gauche.
- Estou sentado numa esplanada perto
do Luxembourg onde tenho estado desde há duas horas a trabalhar. Tempo moche. Ontem ainda tivemos uns
raios de sol e frio qb. Hoje este impreciso, nem frio nem calor, nem chuva nem
dia claro. Como diria o João Corregedor, um tempo típico de Paris.