Quinta,
2 de Novembro.
Na
trapalhada que se seguiu à proclamação da independência da Catalunha, com a
fuga para a Bélgica de Puigdmont e seus próximos colaboradores, estes
entretanto regressados para julgamento, o que fica é a impressão de um golpe mal executado. Eu se fosse ao
Presidente da Generalitat, não teria abandonado o barco e sujeitar-me-ia às
consequências. Afinal de contas, não há nada mais nobre do que defender as
ideias em que se acredita. Tudo o resto cheira a fanfarrice.
- Ontem fui ter com o João à
Brasileira. O resto dos tertulianos, sendo feriado, não apareceu. Ali estivemos
por um tempo a discutir as cenas dos catalães e depois apareceu o Carlos e
juntos fomos almoçar ao Príncipe. Ágape cordato, sem muito ruído, comida
miserável e convívio excelente, recheado de um vulcão temático que abrangeu todo
o mundo ali e no bar da Bertrand, e depois na fnac, até perto às sete da tarde.
Quando nos separámos fazia noite e Corregedor desabafou: “Olha, estamos em
Paris!”
- O funcionário de uma loja na Baixa
onde tenho o hábito de fazer compras, dizia-me esta tarde: “O senhor
transmite-nos alegria, felicidade.” Ganhar a lotaria ao lado deste prémio
imerecido, que valor tem? Nenhum.
- Recebi as análises deste ano (o ano
passado perdi as prescrições do médico). Tudo impecável. Até o famoso
colesterol nunca esteve tão baixo: 173. Todos estes excelentes valores são
devidos ao que levo à boca ou antes ao que não ingero. E como costumo dizer
ainda não foi desta que alimento a saúde à força de drogas que os nossos
queridos médicos dizem indispensáveis “para o resto da vida”. Com efeito, à
parte os delírios de cabeça devido ao esforço da escrita que convoca demasiado
o sistema nervoso que eu ainda não aprendi a debelar e temo me conduza à
loucura, tudo o mais funciona como uma máquina de precisão. O cérebro é de
todos os nossos órgãos o mais intrincado. A sua droga natural é o sono. Mas o
sono acontece com ramificações complexas que têm a génese na vida passada,
presente e nos atropelos do quotidiano. Compreendê-lo, é aprender o Universo.