domingo, novembro 26, 2017

Domingo, 26.
Em Quiberon terminei de joelhos em acção de graças, a fascinante obra de Klaus Mann sobre Alexandre – o Grande. Poucos escritores, na idade de começar a viver a vida, quero dizer aos 23 anos, se habilitariam a escrever um romance com aquela envergadura histórica. Em momento algum o talentoso escritor nos desvia do período entre 356 e 323 a.C. Desde a morte de Filipe II da Macedónia às conquistas do filho de Olímpia do Egipto, vai um longo calvário de guerras, traições, amores, vitórias e atentados. Tudo contado magistralmente e decerto com muita fantasia e um laivo biográfico pessoal pelo meio. Filho do dominador Thomas Mann, o pai que tantas vezes o ostracizou ou esterilizou por marginal, homo e drogado, mas sobretudo por ciúme das capacidades criativas do filho. Enquanto o progenitor se ocupava de uma literatura burguesa, o descendente investia a sua genialidade na luta por ideais, na acção política, atolado na descoberta dos valores humanos, ditando a liberdade como bandeira do mundo civilizado e da conquista do espírito livre. Os seus biógrafos falam na interligação que o autor de Le Tournant faz de Filipe II com Thomas Mann – e têm razão. A construção do Rei da Macedónia, tem uma grande força e percebe-se que a personagem reflete comportamentos e temperamentos duplos que serviram ao autor de referência pessoal e concomitante semelhança com o pai.


         - A Gallimard publicou as missivas que François Mitterand enviou a Anne Pingeot: 1218, reunidas num tijolo com 1276 paginas. Eles conheceram-se em 1962 e a partir daí nunca mais se largaram. Dessa clandestina união nasceu a filha Mazarine. Muitos anos depois, Presidente da República, ele dá a conhecer aos franceses a filha e a mulher que nunca saiu do seu pensamento e que amou até ao último dia. Mitterand está em Belle île, Bretanha, de onde eu cheguei ontem e de Quiberon avistava todos os dias. Sarah Bernard teve lá uma casa com um balcão dando para o mar que eu visitei há alguns anos e debruçado no mesmo local declamei para os meus amigos alguns poemas de Fernando Pessoa. A doença cerca-o, o fim está iminente. Extraio da derradeira carta, o último ágrafo: 
         Et voilà que je ne sais quoi faire de moi, de mon temps fini. Une vrai conjuration! Mais je sortirai de ce bizarre état, ridicule et pittoresque. C´est déjà si difficile de connaître l´usage qu´on doit faire de sa vie! Le reste est plus simple puisqu´il suffit de décider.
        
         Mon bonheur est de penser à toi et t´aimer.
        
         Tu m´as toujours apporté plus. Tu as été ma chance de vie. Comment ne pas t´aimer davantage?

         - À saída da missa na Basílica de S. Denis, três graus. A temperatura caiu a pique.


         - No autocarro de volta a casa, todos os odores de África eram possíveis respirar.