Domingo,
26.
Em
Quiberon terminei de joelhos em acção de graças, a fascinante obra de Klaus
Mann sobre Alexandre – o Grande. Poucos escritores, na idade de começar a viver
a vida, quero dizer aos 23 anos, se habilitariam a escrever um romance com
aquela envergadura histórica. Em momento algum o talentoso escritor nos desvia
do período entre 356 e 323 a.C. Desde a morte de Filipe II da Macedónia às
conquistas do filho de Olímpia do Egipto, vai um longo calvário de guerras,
traições, amores, vitórias e atentados. Tudo contado magistralmente e decerto com
muita fantasia e um laivo biográfico pessoal pelo meio. Filho do dominador
Thomas Mann, o pai que tantas vezes o ostracizou ou esterilizou por marginal,
homo e drogado, mas sobretudo por ciúme das capacidades criativas do filho. Enquanto
o progenitor se ocupava de uma literatura burguesa, o descendente investia a sua
genialidade na luta por ideais, na acção política, atolado na descoberta dos
valores humanos, ditando a liberdade como bandeira do mundo civilizado e da
conquista do espírito livre. Os seus biógrafos falam na interligação que o
autor de Le Tournant faz de Filipe II
com Thomas Mann – e têm razão. A construção do Rei da Macedónia, tem uma grande
força e percebe-se que a personagem reflete comportamentos e temperamentos duplos
que serviram ao autor de referência pessoal e concomitante semelhança com o pai.
- A Gallimard publicou as missivas que
François Mitterand enviou a Anne Pingeot: 1218, reunidas num tijolo com 1276
paginas. Eles conheceram-se em 1962 e a partir daí nunca mais se largaram.
Dessa clandestina união nasceu a filha Mazarine. Muitos anos depois, Presidente
da República, ele dá a conhecer aos franceses a filha e a mulher que nunca saiu
do seu pensamento e que amou até ao último dia. Mitterand está em Belle île,
Bretanha, de onde eu cheguei ontem e de Quiberon avistava todos os dias. Sarah
Bernard teve lá uma casa com um balcão dando para o mar que eu visitei há
alguns anos e debruçado no mesmo local declamei para os meus amigos alguns
poemas de Fernando Pessoa. A doença cerca-o, o fim está iminente. Extraio da
derradeira carta, o último ágrafo:
Et
voilà que je ne sais quoi faire de moi, de mon temps fini. Une vrai
conjuration! Mais je sortirai de ce bizarre état, ridicule et pittoresque.
C´est déjà si difficile de connaître l´usage qu´on doit faire de sa vie! Le
reste est plus simple puisqu´il suffit de décider.
Mon
bonheur est de penser à toi et t´aimer.
Tu m´as toujours apporté plus. Tu as été ma chance de vie. Comment ne
pas t´aimer davantage?
- À saída da missa na Basílica de S.
Denis, três graus. A temperatura caiu a pique.
- No autocarro de volta a casa, todos os
odores de África eram possíveis respirar.