Terça, 24.
Quando
os amigos chegam pela primeira vez, a suprema observação vem na forma de um desabafo: “Como consegues tu viver neste
sítio!” e logo depois a sacrossanta pergunta: “Não tens medo de aqui viver?” O
que diriam eles se soubessem que a noite passada (de longe a única), tendo
andado durante o dia entrar e sair, acabei por deixar o portão aberto e, ainda
por cima, esqueci-me das chaves na porta de casa do lado de fora. Brrrrrrrrrrr,
que medo!
- Nas cento e tantas páginas que leva
o romance O Juiz Apostolatos, Flávio
vai-se construindo do lado metafísico da vida; ao contrário de Rui que o seu
pragmatismo revela o lado tenebroso de o mundo de hoje. Ambos são sócios da
Imprimum, mas de tal modo opostos que anseio por saber como vão eles terminar
os seus dias.
- Já tinha desmontado o verão lá fora
no terraço. Mas como o estio se recusa a deixar-nos, voltei a colocar coxins e
a retirar os resguardos das mesas e cadeiras. É lá que leio e muitas vezes
trabalho. Sob a luz clara que nesta altura nos inunda, e aviva as cores que se
preparam para reconhecer o Outono e instala por todo o lado a doce ternura de
um tempo entre dois tempos, por lá fico até anoitecer. O silêncio não pára
quieto, segue a luz que por sua vez acompanha os restos de sombra que em
verdade nunca abandonam a terra. É neste cruzamento de beleza e irrealidade que
explode de sensações e toques discretos nos fios nervosos, que respiro o resto
dos aromas dos tempos quentes, pautados pelas recordações de outros abafados na
memória e todos em uníssono me relembram a inquietante presença do fim...