domingo, outubro 15, 2017

Domingo, 15.
Refugiei-me aqui por amor da escrita, do silêncio seu companheiro. Este isolamento, é-me devolvido todas as manhãs em prazer e exultação. Se alguma perturbação, alguma nostalgia do passado me toca o coração e o martiriza momentaneamente de sofrimento, é logo remetida para os confins do inferno por indesejada e por não haver espaço para a sua permanência. Pouco importa o que está ao largo daquelas horas sagradas: o reconhecimento, o livro impresso e exposto nos escaparates das livrarias, a possível fama e o êxito. Merdelhices que não podem nem devem conspurcar o acto único do artista entregue ao trabalho na solidão imensa que o invade.  

         - S. Francisco a norte do estado da Califórnia, duas semanas depois, os incêndios prosseguem a sua fúria devastadora. Quase 300 pessoas estão desaparecidas, os bombeiros exaustos, um cheiro intenso a terra queimada, o sofrimento inenarrável das árvores a arder.

         - Depois de semanas exaustivas de luta, o último refúgio do Daesh em Raqqa, na Síria, chega ao fim. Tudo indica que eles perderam terreno considerável e usam agora as populações como escudo na fuga. Tantos séculos de civilização, de aperfeiçoamento da raça humana, de conhecimento cultural e social, de lutas de morte para a dignificação do ser humano, eis-nos hoje face aos mesmos selvagens, meteoritos de um tempo bárbaro, chegados do fundo dos tempos bárbaros para semear o terror, a morte e as lágrimas dos inocentes.


         - Ainda a personagem hedionda. Eu sou dos poucos que pode falar livremente porque não estou nem quero estar vinculado a partidos ou seitas de qualquer espécie. A “honestidade” da criatura nunca me convenceu, mesmo quando fez o empréstimo à Caixa Geral de Depósitos eu disse que aquilo era manobra de construção do futuro cambalacho que hoje se conhece. O homem, todo ele, é uma construção... sem alicerces.