Quarta,
11.
A
propósito da independência da Catalunha: não se pode suspender algo que nunca
existiu. Que grande trapalhada!
- Inúmeros amigos com quem não tenho
contacto há muitos anos ou perdi o rumo, têm-me encontrado através deste blogue
ou lista telefónica que é a internet. Alguns e-mails são trocados, mas depois
segue-se um imenso silêncio. Outros, a quem peço me enviem uma foto, não respondem
provavelmente incomodados por os ter esquecido. Acontece que eu sou mais de
reter um rosto que um nome. Mas também se passa o contrário. Outro dia,
encontrei na Praça do Comércio o irmão do saudoso António Inverno. É ele que me
identifica. Pergunta-me: sabes quem eu sou? Olho-o, fixo-lhe a expressão, mas é
o sorriso que me leva mais perto daquele homem de cabelos brancos, quase calvo,
baixote e simpático que tenho na frente. “Sou o irmão do António Inverno.”
Logo, em catadupa, chegam ao meu cérebro os dias felizes no atelier do Chiado,
com ele, miúdo ainda, lá a trabalhar, cirandando sem descanso e... sem nunca
ter recebido um tostão, “mesmo quando casei o meu irmão me pagou o ordenado”.
Fico estupefacto, não quero acreditar. Segue-se um rosário de tristezas, de
feitos pouco abonatórios sobre o mano que terminou os seus dias como um sem-abrigo,
na completa miséria, procurando o aconchego da primeira mulher e do filho que
havia desprezado a vida inteira. O António que teve por assim dizer o mundo a
seus pés! De todos os pontos do planeta vinham artistas de renome internacional
trazer-lhe os trabalhos que ele transformava em serigrafias de uma perfeição
impressionante. Ele próprio artista plástico, professor, mas criador de uma
vida que não era a sua. “O meu irmão era um mentiroso, inventava coisas que só
existiam na sua imaginação”, lamenta-se o meu interlocutor. Disse-lhe: “Pára.
Esquece tudo isso e centra-te naquilo que ele tinha de bom. Não vale a pena
mortificares-te agora que ele está morto. E eu não quero ouvir mais nada –
prefiro o António Inverno que eu conheci.” A verdade é porém, esta: o saldo de
cada vida só se faz após a morte.
- Conhecemos, enfim, a acusação do MP
contra os ex-primeiro-ministro José Sócrates. O socialista é acusado de 31
crimes, uma conta na Suíça no valor de 24 milhões de euros, e mais umas quantas
vigarices, construídas magistralmente no formato de um polvo tentacular, que
espero a defesa não consiga destruir o honrado trabalho de quatro anos da
equipa do juiz Carlos Alexandre, que nestes últimos dias mandou arrastar muitos
bens do oligarca, incluindo o seu fabuloso apartamento de Paris, no valor de
três milhões e tal. Mas há mais: o processo Operação Marquês, tem 28 arguidos e
o garimpeiro aparece no topo.
- Eu não precisei de trabalhar no duro
como o escravo magistrado Carlos Alexandre, para saber quem é o monstro e de
que é capaz. Se os meus leitores bem se lembram, ao longo do seu reinado, já eu
aqui denunciava a estrutura do fulano, apelidado de “menino de ouro” (foi
premonitório ou a “escritora” já sabia das paletes de ouro que o sujeito
possuía por todo o mundo!), e lembro-me bem dos panegíricos do governante ao BES
e a Ricardo Salgado. Este, só neste processo, foi acusado de 21 crimes. Falta o
maior gestor da Europa como então o tratavam os jornais, Zeinal Bava com 5
crimes; Henrique Granadeiro com aquele nariz empinado de frustrado amoroso com
8 crimes; e o nosso sonso Armando Vara com 5 crimes. Toda esta ladroagem, fica
agora entregue às catedrais de advogados, que vão trabalhar noite e dia, e lá
para daqui a uns anos, por força da magia do dinheiro, irão transformá-los em cidadãos
honestos, acossados pela inveja de haverem triunfado na vida.
- Termino já.
Não sem deixar um elogio a António Costa que, topando o bicho, lhe deixou de
falar.