quarta-feira, outubro 11, 2017

Quarta, 11.
A propósito da independência da Catalunha: não se pode suspender algo que nunca existiu. Que grande trapalhada!

         - Inúmeros amigos com quem não tenho contacto há muitos anos ou perdi o rumo, têm-me encontrado através deste blogue ou lista telefónica que é a internet. Alguns e-mails são trocados, mas depois segue-se um imenso silêncio. Outros, a quem peço me enviem uma foto, não respondem provavelmente incomodados por os ter esquecido. Acontece que eu sou mais de reter um rosto que um nome. Mas também se passa o contrário. Outro dia, encontrei na Praça do Comércio o irmão do saudoso António Inverno. É ele que me identifica. Pergunta-me: sabes quem eu sou? Olho-o, fixo-lhe a expressão, mas é o sorriso que me leva mais perto daquele homem de cabelos brancos, quase calvo, baixote e simpático que tenho na frente. “Sou o irmão do António Inverno.” Logo, em catadupa, chegam ao meu cérebro os dias felizes no atelier do Chiado, com ele, miúdo ainda, lá a trabalhar, cirandando sem descanso e... sem nunca ter recebido um tostão, “mesmo quando casei o meu irmão me pagou o ordenado”. Fico estupefacto, não quero acreditar. Segue-se um rosário de tristezas, de feitos pouco abonatórios sobre o mano que terminou os seus dias como um sem-abrigo, na completa miséria, procurando o aconchego da primeira mulher e do filho que havia desprezado a vida inteira. O António que teve por assim dizer o mundo a seus pés! De todos os pontos do planeta vinham artistas de renome internacional trazer-lhe os trabalhos que ele transformava em serigrafias de uma perfeição impressionante. Ele próprio artista plástico, professor, mas criador de uma vida que não era a sua. “O meu irmão era um mentiroso, inventava coisas que só existiam na sua imaginação”, lamenta-se o meu interlocutor. Disse-lhe: “Pára. Esquece tudo isso e centra-te naquilo que ele tinha de bom. Não vale a pena mortificares-te agora que ele está morto. E eu não quero ouvir mais nada – prefiro o António Inverno que eu conheci.” A verdade é porém, esta: o saldo de cada vida só se faz após a morte.

         - Conhecemos, enfim, a acusação do MP contra os ex-primeiro-ministro José Sócrates. O socialista é acusado de 31 crimes, uma conta na Suíça no valor de 24 milhões de euros, e mais umas quantas vigarices, construídas magistralmente no formato de um polvo tentacular, que espero a defesa não consiga destruir o honrado trabalho de quatro anos da equipa do juiz Carlos Alexandre, que nestes últimos dias mandou arrastar muitos bens do oligarca, incluindo o seu fabuloso apartamento de Paris, no valor de três milhões e tal. Mas há mais: o processo Operação Marquês, tem 28 arguidos e o garimpeiro aparece no topo.  

         - Eu não precisei de trabalhar no duro como o escravo magistrado Carlos Alexandre, para saber quem é o monstro e de que é capaz. Se os meus leitores bem se lembram, ao longo do seu reinado, já eu aqui denunciava a estrutura do fulano, apelidado de “menino de ouro” (foi premonitório ou a “escritora” já sabia das paletes de ouro que o sujeito possuía por todo o mundo!), e lembro-me bem dos panegíricos do governante ao BES e a Ricardo Salgado. Este, só neste processo, foi acusado de 21 crimes. Falta o maior gestor da Europa como então o tratavam os jornais, Zeinal Bava com 5 crimes; Henrique Granadeiro com aquele nariz empinado de frustrado amoroso com 8 crimes; e o nosso sonso Armando Vara com 5 crimes. Toda esta ladroagem, fica agora entregue às catedrais de advogados, que vão trabalhar noite e dia, e lá para daqui a uns anos, por força da magia do dinheiro, irão transformá-los em cidadãos honestos, acossados pela inveja de haverem triunfado na vida.


         - Termino já. Não sem deixar um elogio a António Costa que, topando o bicho, lhe deixou de falar.