Quarta, 4.
Pedro
Passos Coelho, tendo interpretado os resultados das recentes eleições
autárquicas, decidiu devolver aos seus companheiros o lugar que eles lhe haviam
confiado. Fez bem. Era um homem esgotado, que não aceitara a vida como ela se
lhe apresentara, sentia que este mundo partidário já não era o seu, que estava
na hora de dar lugar a outro. Melhor dizendo a outros. Em fila indiana, já se
encontram uns quantos, nenhuma novidade, todos vetustas osgas ronronando.
Largar o poder aos novos, nem pensar. E talvez tenham razão porque eles saem da
maternidade, sendo filhos de quem são, já impregnados de todos os vícios,
aldrabices, arrogância e ambição. Que se lixe! Desde que não ajudem a subir
aquele figurão inculto que dá pelo nome de Rui Rio, aquele provinciano armado
em grande senhor dos aflitos. Seja como for, louvo Passos Coelho. Nem sempre
concordei com ele, mas o trabalho que lhe coube foi duro, ingrato,
incompreendido. Foi, todavia, ele que segurou a democracia, as reformas e os
vencimentos dos funcionários públicos. O estado em que José Sócrates deixou o país,
com fundos de milhões desviados dos cofres do Estado, com crimes de lesa
democracia, o grande capital a desviar para paraísos fiscais o que queria e
queria muito, a miséria moral em que se havia transformado o país, o fosso
entre ricos e pobres ostensivamente exposto, enfim, Portugal a saque com as
procissões dos socialistas e testas de ferro nas barras dos tribunais... Passos
Coelho, enquanto Primeiro-Ministro e pessoa equilibrada e honesta (o pouco que
o desabona não é diferente de qualquer cidadão), foi alguém que marcou pela
diferença em termos pessoais Portugal. A sua filosofia, a sua ideologia não são
as minhas e por isso as combati na rua e nestas páginas. Mas não deixo de
reconhecer que, enquanto personalidade política, educação e princípios, está archi-distante da mediocridade
que o cerca e cerca a República.