quarta-feira, outubro 18, 2017

Quarta, 18.
O Presidente da República palestrou de novo sobre a tragédia dos incêndios. É mais uma palestra, vale o que vale. Gostava que a par dos afectos, houvesse mais decisões, mais acuidade aos actos do Governo, mais fiscalização no terreno e nas autarquias, mais investigação do que se esconde na retaguarda dos fogos deste ano, dos interesses que comandam a desgraça. Há talvez sinceridade nas suas palavras e uma ponta de emoção, mas eu habituado aos esquemas dos políticos, sendo grandes actores, levam-me a não confiar. Tenho a certeza que há muita gente a ganhar milhões com os mortos, os milhares de hectares ardidos, as casas destruídas, as lágrimas dos infelizes, as aflições das populações. A chuva começou a cair. Para o ano há mais do mesmo.

         - Com efeito, eu sou extremamente sensível ao sofrimento alheio. Aqueles testemunhos, aquelas imagens que os telejornais repetem e repetem e repetem à exaustão são reveladores da incompetência, do laxismo, do oportunismo dos nossos governantes. Que trabalham para a imagem, para os seus esquemas partidários mesquinhos, para este e para aquele, quase nada para o país e as pessoas. São temerosos em enfrentar os interesses estabelecidos, têm medo deles, enfrentam os fracos e defendem-se dos fortes.

         - Dou um exemplo de que estou pela força das circunstâncias particularmente bem posicionado para o fazer. Segunda-feira, indo eu no comboio para o Barreiro, entraram a dada altura duas anãs, mãe e filha. Sentaram-se na minha frente e falavam com um rapaz que julgo as acompanhava. Diz a mãe para o acompanhante que a questionava sobre o cartão de deficiente. “Eu já fui tratar disso para ela (a filha), mas tinha que ir aqui e ali e acolá, desisti.” Ao saírem, a mãe barafustava: “Que buraco!” Como fizeram elas para deixar o transporte. Sentaram-se no primeiro degrau, depois passaram ao segundo e por fim saltaram para os braços do rapaz e alcançaram a plataforma da estação.  


         - A jornalista que denunciou o escândalo dos Panama Papers foi assassinada em Malta. É a resposta daqueles que são os senhores disto tudo. Além de ladrões são assassinos.