sábado, outubro 28, 2017

Sábado, 28.
Num país onde não se passa nada, à excepção de quando em vez de um arroto de Cristiano Ronaldo, na forma duma confirmação de que “eu sou o maior jogador do mundo”, ou quando a criatura, não sendo as mulheres o seu forte, anuncia que vai ser, enfim, pai de uma criança concebida por ele e pela mãe do pimpolho, pondo de parte as tragédias dos incêndios que nos arrepiam, tudo o mais não passa de um bocejo que a senhora Cristas, qual pulga em bicos de pés, gritando ao povo distraído:  “Senhores, eu estou aqui!” O que sobra são faits divers há muito estudados e testados por Marcelo, comentador. É tudo tão pequenino, tão insignificante, santo Deus!

         - Como meti uns dias de férias à escrita, fui almoçar com os meus amigos. Na Brasileira onde começámos um debate sobre política (João estava presente, claro) Gordillo (com dois LL o escultor é de origem espanhola, soube ontem), António Carmo e o nosso simpático jornalista que praticamente só faz de corpo presente surdo como está. João Corregedor, açambarca a discussão lutando pelas suas ideias. Eu quando estou em desacordo com ele faço o mesmo. Por exemplo, não sendo a favor da independência da Catalunha tal como foi apresentada, também não alinho numa federação ao contrário do meu amigo. Dali seguimos para o Príncipe onde nos aguardava já o Carlos. Antes porém, João e eu, fomos chamados ao Palácio Amarelo - segundo rezam os entendidos vem retratado em O Mandarim de Eça de Queiroz -, mas eu não tenho a certeza ser verdade. Guilherme Parente, naquele seu modo de ser tímido, quer-nos oferecer um original a cada um, e pede-nos que o escolhamos de entre as toneladas de telas que abarrotam os dois andares do atelier. Eu recuso in petto, João segue-me. Então ele traz-nos uns quantos trabalhos e estende-os diante dos nossos olhos a saber de quais gostamos mais. Palavra puxa palavra, insistência sobre insistência, recusa sobre recusa, até que ele aparece de novo com dois trabalhos emoldurados e diz-nos: “Escolham o que mais gostarem.” Ante isto, dou a preferência ao João que seleccionou aquele que eu, gostando, não ultrapassa o outro que me entrara no coração ao primeiro olhar. Decidida a oferta, saímos para o restaurante. Pouca gente, ao agrado do Corregedor. Almoço calmo, cordial. Dali voltámos ao atelier do Guilherme para ficarmos até ao fim da tarde em discussão acesa, ou não tivesse o Irmão uns copitos a mais. Todos lamentámos a ausência do Virgílio que continua enclausurado na cela luxuosa do palacete do Estoril.


         - Para memória futura: hoje, aqui, registaram-se 33 graus! Voltei às regas.