Sábado,
28.
Num
país onde não se passa nada, à excepção de quando em vez de um arroto de
Cristiano Ronaldo, na forma duma confirmação de que “eu sou o maior jogador do
mundo”, ou quando a criatura, não sendo as mulheres o seu forte, anuncia que
vai ser, enfim, pai de uma criança concebida por ele e pela mãe do pimpolho,
pondo de parte as tragédias dos incêndios que nos arrepiam, tudo o mais não
passa de um bocejo que a senhora Cristas, qual pulga em bicos de pés, gritando
ao povo distraído: “Senhores, eu estou
aqui!” O que sobra são faits divers
há muito estudados e testados por Marcelo, comentador. É tudo tão pequenino, tão
insignificante, santo Deus!
- Como meti uns dias de férias à
escrita, fui almoçar com os meus amigos. Na Brasileira onde começámos um debate
sobre política (João estava presente, claro) Gordillo (com dois LL o escultor é
de origem espanhola, soube ontem), António Carmo e o nosso simpático jornalista
que praticamente só faz de corpo presente surdo como está. João Corregedor,
açambarca a discussão lutando pelas suas ideias. Eu quando estou em desacordo
com ele faço o mesmo. Por exemplo, não sendo a favor da independência da
Catalunha tal como foi apresentada, também não alinho numa federação ao
contrário do meu amigo. Dali seguimos para o Príncipe onde nos aguardava já o
Carlos. Antes porém, João e eu, fomos chamados ao Palácio Amarelo - segundo
rezam os entendidos vem retratado em O
Mandarim de Eça de Queiroz -, mas eu não tenho a certeza ser verdade. Guilherme
Parente, naquele seu modo de ser tímido, quer-nos oferecer um original a cada
um, e pede-nos que o escolhamos de entre as toneladas de telas que abarrotam os
dois andares do atelier. Eu recuso in
petto, João segue-me. Então ele traz-nos uns quantos trabalhos e estende-os
diante dos nossos olhos a saber de quais gostamos mais. Palavra puxa palavra,
insistência sobre insistência, recusa sobre recusa, até que ele aparece de novo
com dois trabalhos emoldurados e diz-nos: “Escolham o que mais gostarem.” Ante
isto, dou a preferência ao João que seleccionou aquele que eu, gostando, não
ultrapassa o outro que me entrara no coração ao primeiro olhar. Decidida a
oferta, saímos para o restaurante. Pouca gente, ao agrado do Corregedor. Almoço
calmo, cordial. Dali voltámos ao atelier do Guilherme para ficarmos até ao fim
da tarde em discussão acesa, ou não tivesse o Irmão uns copitos a mais. Todos
lamentámos a ausência do Virgílio que continua enclausurado na cela luxuosa do palacete
do Estoril.
- Para memória futura: hoje, aqui,
registaram-se 33 graus! Voltei às regas.