Sábado, 21.
Regressei
tarde ontem a casa. Almocei com o grupo do costume no Príncipe e consegui até
convencer o Corregedor a vir connosco. Repasto animado sobretudo com a
malfadada política que João não consegue evitar e com o qual de um modo geral
estou de acordo. Apesar disso, ainda arranjei espaço para falarmos sobre o meu
projecto de transformar esta quinta num espaço de escrita e residência para
escritores. Mas ao invés da APA ele sugere-me a APE, à frente da qual está um
velho conhecido meu o escritor José Manuel Mendes. A pensar.
- Com o Carlos e o Gordilho, abancámos
no café da fnac. Grande conversa vadia que trouxe amigos comuns, situações, um
certo tempo imobilizado no tempo que para trás ficou, servido de gente
interessante, com histórias vivas que alimentaram uma época. João é um homem de
camaradagem, de amizade desinteressada, pura, de encontros e de discussão e
troca de ideias e passagem de testemunhos, quer a todo o custo – apesar da
falta que Virgílio nos faz – manter a tertúlia e estabeleceu que pelo menos as
sextas-feiras sejam reservadas aos nossos encontros. Pela minha parte, tudo farei
nesse sentido.
- Não me sai da cabeça a atitude de um
autarca que não fixei o nome mas devia nomeá-lo, quando o entrevistador lhe
perguntou se ia cobrar a água que os munícipes gastaram a apagar os fogos,
respondeu: “Ainda não sei. Mas pelo menos o que é costume consumirem, devem
pagar.” Esta atitude diz muito do choro hipócrita da maioria dos presidentes de
câmara das localidades atingidas pela desgraça. Tudo aquilo é espectáculo à custa
da desgraça que eles não souberam evitar, não acudiram, não se responsabilizam
e abandonaram.
- O mesmíssimo espectáculo dos afectos
levado à cena pelo Presidente da República. Eu que vejo a dor e a tragédia
desembarcar em minha casa todas as noites comovo-me, choro. Ele que por ali
anda, sem uma contracção muscular facial, uma lágrima furtiva, um sentimento
que desça da figura de pedra... Só um papel bem ensaiado, bem construído pode
alcançar uma tal proeza.