sábado, outubro 21, 2017

Sábado, 21.
Regressei tarde ontem a casa. Almocei com o grupo do costume no Príncipe e consegui até convencer o Corregedor a vir connosco. Repasto animado sobretudo com a malfadada política que João não consegue evitar e com o qual de um modo geral estou de acordo. Apesar disso, ainda arranjei espaço para falarmos sobre o meu projecto de transformar esta quinta num espaço de escrita e residência para escritores. Mas ao invés da APA ele sugere-me a APE, à frente da qual está um velho conhecido meu o escritor José Manuel Mendes. A pensar.

         - Com o Carlos e o Gordilho, abancámos no café da fnac. Grande conversa vadia que trouxe amigos comuns, situações, um certo tempo imobilizado no tempo que para trás ficou, servido de gente interessante, com histórias vivas que alimentaram uma época. João é um homem de camaradagem, de amizade desinteressada, pura, de encontros e de discussão e troca de ideias e passagem de testemunhos, quer a todo o custo – apesar da falta que Virgílio nos faz – manter a tertúlia e estabeleceu que pelo menos as sextas-feiras sejam reservadas aos nossos encontros. Pela minha parte, tudo farei nesse sentido.

         - Não me sai da cabeça a atitude de um autarca que não fixei o nome mas devia nomeá-lo, quando o entrevistador lhe perguntou se ia cobrar a água que os munícipes gastaram a apagar os fogos, respondeu: “Ainda não sei. Mas pelo menos o que é costume consumirem, devem pagar.” Esta atitude diz muito do choro hipócrita da maioria dos presidentes de câmara das localidades atingidas pela desgraça. Tudo aquilo é espectáculo à custa da desgraça que eles não souberam evitar, não acudiram, não se responsabilizam e abandonaram.


         - O mesmíssimo espectáculo dos afectos levado à cena pelo Presidente da República. Eu que vejo a dor e a tragédia desembarcar em minha casa todas as noites comovo-me, choro. Ele que por ali anda, sem uma contracção muscular facial, uma lágrima furtiva, um sentimento que desça da figura de pedra... Só um papel bem ensaiado, bem construído pode alcançar uma tal proeza.