segunda-feira, junho 05, 2017

Segunda, 5.
Enfuna da tragédia de Londres, os pormenores das acções dos jihadistas. Estes inqualificáveis seres, depois de terem largado a viatura com que atropelaram os passantes que encontraram no caminho, armados de facas, mataram todos quantos depararam na frente. Sabe-se que houve sete mortos, que três dos bárbaros foram liquidados, mas não se sabe ainda quantos dos feridos irão sobreviver. O ataque já foi reivindicado pelo Daesh. Theresa May mantem –  e bem – a data das eleições marcadas para quinta-feira.


         - Virgílio nunca se refez completamente da morte da mulher. Ficando só, custa-lhe estar em casa sem a companhia do filho ou de qualquer outro familiar. Sabendo disso, tenho o hábito de lhe telefonar às vezes à noite. Foi o que aconteceu anteontem. Reparem neste delicioso diálogo:

         - “Olá, Virgílio, estás bem?  
         - Tás a ver o jogo?
         - Eu? Qual jogo? – pergunto indignado.
         - Ah, é verdade tu não gostas de futebol!
         - Estou a ver o canal Arte.
         - O Ronaldo marcou mais um golo – diz-me ele entusiasmado.
         - Mas isso da bola ainda não terminou? – indigno-me eu.
         - Não. O gajo é o maior! – responde-me, despachado.
         - Bom. Deixo-te. Boa-noite e vai lá ver o jogo.”

         Quando desliguei o telefone, senti ganas de telefonar ao fisco espanhol pedindo-lhe que não prenda o craque. O que são 15 milhões de fuga aos impostos ante a felicidade do Virgílio!

         - A propósito do meu amigo escultor, direi que sempre me dei muito bem com pintores, músicos, arquitectos. São as melhores companhias. Corram com advogados, engenheiros, economistas, escritores e tipos dessa laia. A amizade que mantenho com o Werner, mesmo à distância, não cessa de crescer e apesar de ele ser suíço. Volta que não volta, manda-me coisas. Desta vez, este retrato de um seu vizinho.




         - Uma parte do dia foi preenchida na cozinha. Como este ano foi ano de alperces e ameixas em quantidades excepcionais, pus-me a fazer compotas. Trabalho artesanal, paciente, que toma muitas horas, mas deixa-nos intimamente felizes por vir de tempos ancestrais e trazer consigo a memória que a industrialização recusa apressada em intoxicar as pessoas.