quarta-feira, junho 14, 2017

Quarta, 14.
A notícia do dia refere o incêndio num prédio de 27 andares perto do centro de Londres. Sabe-se que há vários mortos e feridos e as causas do sinistro ainda não foram encontradas. As imagens que vêm da cidade, são assustadoras. Desejo que não seja mais uma acção dos selváticos do Daesh.

         - Outra notícia refere o cerco ao nosso mais que todos, Cristiano. O fisco espanhol acusa-o de fraude fiscal no valor de 14,7 milhões de euros!!! Enquanto os advogados e cúmplices nas negociatas do futebol o defendem, os jornais dizem que o craque pode vir a sofrer pena de prisão efectiva. Em que mundo vive esta gente? Ronaldo encaixotado numa cela!

         - Ontem tive uma jornada em cheio por Lisboa, regressando ao meu presbitério já a noite se tinha instalado há muito na terra. Na véspera, o Carlos nosso irmão em Jesus Cristo, havia-me telefonado a reclamar presença para o almoço. Acontece que na Brasileira, lugar costumado de uns quantos amigos, deparei-me com o Virgílio, o João, o António e a mulher, alguns mais. Ao meio-dia em ponto, hora do bebé Virgílio abancar para as papas, recusando-me eu e o Corregedor a ir ao Príncipe onde eles têm mesa e guardanapo ao mês, vieram eles connosco à Adega da Mó, meu refúgio gustatório quando vou à capital. A Tereza Magalhães, extraordinária pintora de quem gosto muito, juntou-se a nós e à mesa do Sr. João, éramos cinco terríveis palradores até ficarem no final tocados pelo vinho branco dois: Virgílio e Carlos. Como a tarde estava abafada e as ruas hiper-poluídas, optámos por prosseguir a discussão no novo espaço da Bertrand, ao Chiado. Coisa armada, com preços a condizer, para turista distraído e papalvo. Salva-se o ar condicionado e de seguida a loja em frente onde vim a saber da morte há dois meses do meu amigo Vítor Ribeiro. Artista e homem do sorriso iluminado, era um apaixonado por mulheres que pintou até à exaustão, multiplicando casamentos e aventuras. Ao fim da tarde, subi ao parque da cidade para me encontrar com a Conceição e o Simão e juntos percorrermos a Feira do Livro. Sendo feriado, muita gente, muito lixo, muitos escritores a dar autógrafos para pouca gente a reclamá-los. Subimos por um lado, descemos por outro. Parámos, contudo, a meio para petiscar com a deslumbrante paisagem que morria lá longe onde o rio corria ladeado pelo casario branco do “deserto” da margem sul. Na visita senti-me um pouco perdido naquele submundo que respira tudo menos cultura. Tem antes um ar de feira da ladra, com os stands decorados miseravelmente, os livros dispostos como sardinha de véspera, uns quantos gurus distribuindo sorrisos canalhas, tudo abafado pelo calor que teimava em não debandar. Separei-me dos meus amigos e fui embarcar a Entrecampos no fertagus que me devolveu ao paraíso. O comboio era o dos noctívagos, poucos e todos de bocas escancaradas e ruído cavernoso, suspensos do sono cavado, os corpos abandonados, em calções e T-shirts à cava, num despudor lascivo, de todo desviante, mas aprofundado numa espécie de incidência machona que reclama a vista, mas não os sentidos... e me impediu a leitura do Prólogo de Bertrand Russell ao Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein um dos livros que adquiri.

          - Disse para quem me quis ouvir que para estar ali tive de me levantar mais cedo a fim de regar as minhas namoradas hortências. Risada unânime.