Quarta,
14.
A
notícia do dia refere o incêndio num prédio de 27 andares perto do centro de
Londres. Sabe-se que há vários mortos e feridos e as causas do sinistro ainda
não foram encontradas. As imagens que vêm da cidade, são assustadoras. Desejo
que não seja mais uma acção dos selváticos do Daesh.
- Outra notícia refere o cerco ao
nosso mais que todos, Cristiano. O fisco espanhol acusa-o de fraude fiscal no
valor de 14,7 milhões de euros!!! Enquanto os advogados e cúmplices nas
negociatas do futebol o defendem, os jornais dizem que o craque pode vir a sofrer
pena de prisão efectiva. Em que mundo vive esta gente? Ronaldo encaixotado numa
cela!
- Ontem tive uma jornada em cheio por
Lisboa, regressando ao meu presbitério já a noite se tinha instalado há muito na
terra. Na véspera, o Carlos nosso irmão em Jesus Cristo, havia-me telefonado a
reclamar presença para o almoço. Acontece que na Brasileira, lugar costumado de
uns quantos amigos, deparei-me com o Virgílio, o João, o António e a mulher, alguns
mais. Ao meio-dia em ponto, hora do bebé Virgílio abancar para as papas,
recusando-me eu e o Corregedor a ir ao Príncipe onde eles têm mesa e guardanapo
ao mês, vieram eles connosco à Adega da Mó, meu refúgio gustatório quando vou à
capital. A Tereza Magalhães, extraordinária pintora de quem gosto muito,
juntou-se a nós e à mesa do Sr. João, éramos cinco terríveis palradores até
ficarem no final tocados pelo vinho branco dois: Virgílio e Carlos. Como a
tarde estava abafada e as ruas hiper-poluídas, optámos por prosseguir a
discussão no novo espaço da Bertrand, ao Chiado. Coisa armada, com preços a
condizer, para turista distraído e papalvo. Salva-se o ar condicionado e de
seguida a loja em frente onde vim a saber da morte há dois meses do meu amigo
Vítor Ribeiro. Artista e homem do sorriso iluminado, era um apaixonado por
mulheres que pintou até à exaustão, multiplicando casamentos e aventuras. Ao
fim da tarde, subi ao parque da cidade para me encontrar com a Conceição e o
Simão e juntos percorrermos a Feira do Livro. Sendo feriado, muita gente, muito
lixo, muitos escritores a dar autógrafos para pouca gente a reclamá-los. Subimos
por um lado, descemos por outro. Parámos, contudo, a meio para petiscar com a
deslumbrante paisagem que morria lá longe onde o rio corria ladeado pelo
casario branco do “deserto” da margem sul. Na visita senti-me um pouco perdido
naquele submundo que respira tudo menos cultura. Tem antes um ar de feira da
ladra, com os stands decorados miseravelmente, os livros dispostos como
sardinha de véspera, uns quantos gurus distribuindo sorrisos canalhas, tudo
abafado pelo calor que teimava em não debandar. Separei-me dos meus amigos e
fui embarcar a Entrecampos no fertagus que me devolveu ao paraíso. O comboio
era o dos noctívagos, poucos e todos de bocas escancaradas e ruído cavernoso,
suspensos do sono cavado, os corpos abandonados, em calções e T-shirts à cava,
num despudor lascivo, de todo desviante, mas aprofundado numa espécie de
incidência machona que reclama a vista, mas não os sentidos... e me impediu a leitura
do Prólogo de Bertrand Russell ao Tractatus
Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein um dos livros que adquiri.
- Disse
para quem me quis ouvir que para estar ali tive de me levantar mais cedo a fim
de regar as minhas namoradas hortências. Risada unânime.