Quinta,
1 de Junho.
Dias
de grande beleza. As hortências estão já abertas exibindo cores entre o azul, o
branco, o rosa. Todo o jardim é um paraíso e em redor da casa o perfume invade
os espaços criando uma atmosfera primaveril, sobre as árvores as centenas de
pássaros cantam à desgarrada com os cucos lá longe. Os frutos maduros –
ameixas, damascos, laranjas - são um convite ao pecado do excesso. A casa de
portas abertas, recebe a luz clara da manhã que a Piedade aformoseia com jarras
de flores colhidas no exterior. A mesa lá fora está montada sob o enorme guarda-sol
para receber o Carlos (o Irmão) que não tarda para o almoço. Um vento leve como
a neve, passeia por entre o arvoredo trazendo o tempero das auroras setentrionais.
A paz cai redonda sobre o pátio, o tempo parece imobilizado, o silêncio chega com
vozes disseminadas que estancam como presenças amigas. A harmonia é total, como
perfeita e nítida é a chama que nos suspende contemplativos ante o mistério do
dia.