Quinta,
8.
Caminhando
a par comigo na Rua Augusta, três risonhas raparigas chinesas. Com um defeito:
não falavam, gritavam. Voltei-me para elas e disse-lhes que falassem baixo, que
em Portugal só as pessoas de pouca educação berram quando falam. Ficaram muito
espantadas a olhar para mim como se tivessem ouvido uma máxima de Mao Tzé-Tung
que elas decerto não sabem quem foi.
- Pelos meus caminhos parisienses, ocorreu anteontem
mais um atentado. Um homem de meia-idade, atacou a polícia com um martelo e
duas facas. O agente foi para o hospital, o homem para a prisão.
- Ofereci ao Carlos o meu livro Fragmentos do Silêncio na edição
ilustrada pelo Carlos Rocha Pinto. Trata-se de uma obra rara, encadernada,
cujos fotolitos foram destruídos e feitos apenas 250 exemplares, numerados, que
a Zélia da Barata comprou na totalidade, assim como a serigrafia de 100
unidades executada pelo saudoso António Inverno. À noite, o meu amigo
telefonou-me a dizer que quase acabou de ler o livro e acrescentou: “agora
compreendo porque gostaste tanto da minha escultura”.
- Estou siderado com a personalidade de
S. Paulo. É a partir dele que as coisas se complicam e a Palavra de Jesus
conhece toda a sorte de malabarismos – mas o homem é surpreendente.