Sexta, 28.
Encontrei-me
com o Zé V. Pereira e um pouco antes no Chiado com o João e a banda habitual. O
que há de extraordinário é a capacidade de abancar que esta gente tem. Por tudo
e por nada, toca de almoçar e como se isso fosse pouco, a paparoca tem de ser
abundantemente regada. Ainda se se dissesse que eram solteiros e, portanto,
natural abastecerem a barriguinha fora de casa! Mas, não. São todos casados e
pais de filhos. O único que não entrou nessas fantasias de vida é este que se
assina. Eu há muito tempo que evito restaurantes, não só porque tenho de ter
atenção à saúde como à bolsa. Mas aquela gente vive num mundo que não vem em
nenhum mapa. Como conseguem? Mistério. É facto que andam sempre tesos, e talvez
de contas bancárias a zero, mas a festa não pára. Estou contra? Talvez pareça,
mas não estou. Cada um age e vive como bem lhe pareça. Eu quando estamos
juntos, faço marcha atrás. Despeço-me à francesa à porta da Brasileira. Mas
depois eles vêm atrás de mim e arrastam-me para o Príncipe onde não gosto de
comer. Esta semana já foram pelo menos duas vezes. Com o ZVP é diferente, mas
vai dar ao mesmo. Este amigo de longa data, adora restaurantes premiados com
estrelas Michelin. Conhece-os todos ainda que tenha de lá deixar a pele. Bom.
Que mais? Em todo o rebanho é a política que toma o pódio. Mas não há
coerência. Eu dizia ao Corregedor, a mim o que me interessa são os objectivos.
Se aqui o PCP está de acordo que Portugal saía da UE, porque razão eu não devo
estar do lado da senhora Le Pen quando pretende o mesmo! O Chou-Chou todos
detestam. Evidentemente, que é a Europa e o mundo que está numa situação
extremamente complicada. Sobretudo, tal como as coisas se apresentam, é a própria
democracia que vai à vida. O mais impressionante, contudo, é verificar que
todos lamentam a situação, mas ninguém se interroga, a montante, das suas
causas. Há anos que pensadores, escritores, mulheres e homens independentes,
vêm alertando para isto. Os políticos na sua ambição e cozinhados partidários
estão na génese do problema. Os povos fartaram-se deles, tentam a derradeira
sorte com gente que pense o oposto. As ideologias estão falidas, o império do
dinheiro anulou-as. A própria política deixou de ser grande para ser um produto
barato de interesses mesquinhos. A Cultura também já não convence. A povoléu
prefere a frivolidade, a razia desenfreada da sub-cultura. As pessoas hoje
formam-se diante dos ecrãs de televisão, na massificação idiota e senil das
minúsculas coisas da existência. Contentam-se com pouco: um pequeno smartphone,
um lugar no jogo do seu clube, duas pataniscas ao jantar, um par de calças de
marca, uns ténis idênticos aos dos seus ídolos, uma noite diante da televisão a
comer merdelhices que felizmente ainda não cheiram a nada. Emitem parecer, mas
a coberto de nicks. É o mundo dos cobardes, do não conhecimento, do anti-herói.
Os imbecis estão hoje no palco da calhandrice. São eles os cultores do
conhecimento sem bases, sem estudo, sem esforço. Pede-se ao cérebro pouca
bravura e muita aos músculos, não para defender os fracos, mas para exibir as
disformidades que extasiam as plateias estupidificadas. A um dirigente não se requer
coerência, conhecimento, equilíbrio. Exige-se beleza, juventude, sorriso pateta
e dentuça brilhante, palavra aldrabada. Eu não me admiraria que Marine Le Pen
ganhasse a um Chou-Chou idiota que ainda recentemente disse que a cultura
francesa nunca existiu. Fará ela melhor? Fará ao menos o que promete? Claro que
não. Há muito que a palavra perdeu todo o significado. O que importa agora é
alterar a Europa do euro, abalá-la, varrer os funcionários e dirigentes que se
encheram, deram a encher, raparam o fundo do tacho do poder e conduziram
políticas que beneficiaram os grandes e reduziram à miséria os pequenos países,
acelerando a corrupção, aumentando impostos, trazendo leis que não condizem com
as características dos povos, humilhação, dependência e outros vícios que o
termos entrado num clube onde só se joga a dinheiro produz. É verdade que a única
e estimada arma que nos resta é o voto. Penso, porém, por pouco tempo. Os
gatunos, adoradores de riqueza, de poder, não suportam ad perpetuam sujeitarem-se à escumalha que em cada nova eleição diz-lhes nas ventas lambuças
que os dispensa. Com isto quero dizer: a guerra não anda longe.