sexta-feira, abril 28, 2017

Sexta, 28.

Encontrei-me com o Zé V. Pereira e um pouco antes no Chiado com o João e a banda habitual. O que há de extraordinário é a capacidade de abancar que esta gente tem. Por tudo e por nada, toca de almoçar e como se isso fosse pouco, a paparoca tem de ser abundantemente regada. Ainda se se dissesse que eram solteiros e, portanto, natural abastecerem a barriguinha fora de casa! Mas, não. São todos casados e pais de filhos. O único que não entrou nessas fantasias de vida é este que se assina. Eu há muito tempo que evito restaurantes, não só porque tenho de ter atenção à saúde como à bolsa. Mas aquela gente vive num mundo que não vem em nenhum mapa. Como conseguem? Mistério. É facto que andam sempre tesos, e talvez de contas bancárias a zero, mas a festa não pára. Estou contra? Talvez pareça, mas não estou. Cada um age e vive como bem lhe pareça. Eu quando estamos juntos, faço marcha atrás. Despeço-me à francesa à porta da Brasileira. Mas depois eles vêm atrás de mim e arrastam-me para o Príncipe onde não gosto de comer. Esta semana já foram pelo menos duas vezes. Com o ZVP é diferente, mas vai dar ao mesmo. Este amigo de longa data, adora restaurantes premiados com estrelas Michelin. Conhece-os todos ainda que tenha de lá deixar a pele. Bom. Que mais? Em todo o rebanho é a política que toma o pódio. Mas não há coerência. Eu dizia ao Corregedor, a mim o que me interessa são os objectivos. Se aqui o PCP está de acordo que Portugal saía da UE, porque razão eu não devo estar do lado da senhora Le Pen quando pretende o mesmo! O Chou-Chou todos detestam. Evidentemente, que é a Europa e o mundo que está numa situação extremamente complicada. Sobretudo, tal como as coisas se apresentam, é a própria democracia que vai à vida. O mais impressionante, contudo, é verificar que todos lamentam a situação, mas ninguém se interroga, a montante, das suas causas. Há anos que pensadores, escritores, mulheres e homens independentes, vêm alertando para isto. Os políticos na sua ambição e cozinhados partidários estão na génese do problema. Os povos fartaram-se deles, tentam a derradeira sorte com gente que pense o oposto. As ideologias estão falidas, o império do dinheiro anulou-as. A própria política deixou de ser grande para ser um produto barato de interesses mesquinhos. A Cultura também já não convence. A povoléu prefere a frivolidade, a razia desenfreada da sub-cultura. As pessoas hoje formam-se diante dos ecrãs de televisão, na massificação idiota e senil das minúsculas coisas da existência. Contentam-se com pouco: um pequeno smartphone, um lugar no jogo do seu clube, duas pataniscas ao jantar, um par de calças de marca, uns ténis idênticos aos dos seus ídolos, uma noite diante da televisão a comer merdelhices que felizmente ainda não cheiram a nada. Emitem parecer, mas a coberto de nicks. É o mundo dos cobardes, do não conhecimento, do anti-herói. Os imbecis estão hoje no palco da calhandrice. São eles os cultores do conhecimento sem bases, sem estudo, sem esforço. Pede-se ao cérebro pouca bravura e muita aos músculos, não para defender os fracos, mas para exibir as disformidades que extasiam as plateias estupidificadas. A um dirigente não se requer coerência, conhecimento, equilíbrio. Exige-se beleza, juventude, sorriso pateta e dentuça brilhante, palavra aldrabada. Eu não me admiraria que Marine Le Pen ganhasse a um Chou-Chou idiota que ainda recentemente disse que a cultura francesa nunca existiu. Fará ela melhor? Fará ao menos o que promete? Claro que não. Há muito que a palavra perdeu todo o significado. O que importa agora é alterar a Europa do euro, abalá-la, varrer os funcionários e dirigentes que se encheram, deram a encher, raparam o fundo do tacho do poder e conduziram políticas que beneficiaram os grandes e reduziram à miséria os pequenos países, acelerando a corrupção, aumentando impostos, trazendo leis que não condizem com as características dos povos, humilhação, dependência e outros vícios que o termos entrado num clube onde só se joga a dinheiro produz. É verdade que a única e estimada arma que nos resta é o voto. Penso, porém, por pouco tempo. Os gatunos, adoradores de riqueza, de poder, não suportam ad perpetuam sujeitarem-se à escumalha que em cada nova eleição diz-lhes nas ventas lambuças que os dispensa. Com isto quero dizer: a guerra não anda longe.