segunda-feira, abril 03, 2017

Segunda, 3.
Apesar do muito que nesta altura há para fazer no campo, consegui terminar o primeiro capítulo de O Juiz Bernardo. Uma quinzena de páginas foram impressas para que eu possa ajuizar do que saiu da impetuosidade da escrita. É o corte e costura habitual. Dá tanto ou mais trabalho que a construção do texto original. Lidas em diagonal as folhas, ficou-me uma sensação nublosa a obrigar-me a deitar para o caixote do lixo um mês e tal de trabalho. Nenhuma das personagens se me abre em confiança, todas se escondem numa sombra que projecta dissemelhança com a realidade. Talvez entre nós não exista ainda aquela dose de aplomb e empatia que as leve a abrirem-se sem constrangimentos e que a escrita aproxima e torna cúmplice.


         - O futebol praticado por selvagens, energúmenos, gandulos e outros que tais, volta que não volta, mostra a máscara hedionda que o sustém. Desta vez, um das cavernas, mal o jogo tinha começado, descontente com a ordem do árbitro, aponta-lhe uma cabeçada e homem cai redondo no chão com o nariz partido em três partes. Estes criminosos, bem vistas as coisas, não são melhores nem piores que aqueles outros que os dirigem e tantas vezes os acicatam a exercerem violência no campo onde são muito homens! De resto, este país, é uma choldra de gente sem nível, sem educação nem princípios, maltrapilhos formados no futebol que é o reino da mediocridade e dos iletrados. Dele ou da sua normalidade, emana a violência nas escolas, na família, nas ruas, entre vizinhos e na vida política. Que se esperava?! Quando se educa um povo com concursos televisivos, telenovelas, futebol, entretenimento que não cansa nem faz pensar, dando a ideia que o futuro não se conquista e só a riqueza obsessivamente ambicionada por estes pobres de espírito, é importante e digna da espécie humana. Para esta gentalha, o conhecimento é um insulto, um livro uma coisa asquerosa e inútil. Basta olhar para aqueles corpos, aqueles rostos inchados de álcool e gordura, aquele português de favela, aqueles carros horrorosos que eles exibem com orgulho, aquelas casas saloias que ostentam, aquele estrato social onde não cabe uma ponta de cultura e civilização - só arrogância, saloiice, atraso mental.