Segunda, 3.
Apesar
do muito que nesta altura há para fazer no campo, consegui terminar o primeiro
capítulo de O Juiz Bernardo. Uma
quinzena de páginas foram impressas para que eu possa ajuizar do que saiu da
impetuosidade da escrita. É o corte e costura habitual. Dá tanto ou mais
trabalho que a construção do texto original. Lidas em diagonal as folhas,
ficou-me uma sensação nublosa a obrigar-me a deitar para o caixote do lixo um
mês e tal de trabalho. Nenhuma das personagens se me abre em confiança, todas se
escondem numa sombra que projecta dissemelhança com a realidade. Talvez entre
nós não exista ainda aquela dose de aplomb e empatia que as leve a abrirem-se
sem constrangimentos e que a escrita aproxima e torna cúmplice.
- O futebol praticado por selvagens, energúmenos, gandulos e outros que
tais, volta que não volta, mostra a máscara hedionda que o sustém. Desta vez,
um das cavernas, mal o jogo tinha começado, descontente com a ordem do árbitro,
aponta-lhe uma cabeçada e homem cai redondo no chão com o nariz partido em três
partes. Estes criminosos, bem vistas as coisas, não são melhores nem piores que
aqueles outros que os dirigem e tantas vezes os acicatam a exercerem violência
no campo onde são muito homens! De resto, este país, é uma choldra de gente sem
nível, sem educação nem princípios, maltrapilhos formados no futebol que é o
reino da mediocridade e dos iletrados. Dele ou da sua normalidade, emana a violência nas escolas, na família, nas ruas,
entre vizinhos e na vida política. Que se esperava?! Quando se educa um povo com
concursos televisivos, telenovelas, futebol, entretenimento que não cansa nem
faz pensar, dando a ideia que o futuro não se conquista e só a riqueza
obsessivamente ambicionada por estes pobres de espírito, é importante e digna
da espécie humana. Para esta gentalha, o conhecimento é um insulto, um livro
uma coisa asquerosa e inútil. Basta olhar para aqueles corpos, aqueles rostos
inchados de álcool e gordura, aquele português de favela, aqueles carros
horrorosos que eles exibem com orgulho, aquelas casas saloias que ostentam,
aquele estrato social onde não cabe uma ponta de cultura e civilização - só
arrogância, saloiice, atraso mental.