quinta-feira, abril 13, 2017

Quinta, 13.
A pouco e pouco, o Mágico vai deixando à mostra os truques que há um ano vem escondendo. São agora os médicos que avançam com uma greve de dois dias; as escolas a cair de podre que os alunos rejeitam; a descoberta de que nunca o seu Governo manifestou interesse em nacionalizar o BES; que cá dentro chamaram tudo ao camarada socialista à frente do Eurogrupo, mas em Bruxelas acobardaram-se e nem um pedido de desculpa exigiram, para não falar da propaganda desfiada em laudas sobre os seus méritos de que se encarregam as televisões e os jornais, num coro de unicidade confrangedor que envergonha o jornalismo. Indiferente à magia, as agências de raiting continuam a chamar à varinha de condão do mestre de cerimónias, lixo.  


         - Almocei na Adega da Mó com o Carlos Soares dito o Irmão. Que repasto suculento de sabedoria e conhecimento sobre Arte em geral e particularmente arte-sacra e escultura dos séc. XV ao XVIII. Ao ouvi-lo, constatei uma vez mais que a pintura, a escultura, a escrita não é trabalho para dondocas e dondocos pretensiosos, que se aproveitam da arte para fins pessoais e caganças promocionais, passando ao largo do estudo, da aprendizagem meticulosa, da percepção que se adquire com paciência e análise, protegida por mestres numa viagem fascinante que só a morte suspende. Carlos esteve em todo o lado onde a aprendizagem estivesse: Paris, Viena, Alemanha, Angola, Itália, Estados Unidos e passo. Foi contratado por fortunas fabulosas que nunca lhe interessaram e só ficou o tempo que exigia o saber. Depois levantava amarras ante a indignação daqueles que despejavam as contas bancárias para o ter perto deles. Mesmo aqui, trabalha dando apreciações técnicas para a Igreja que não lhe paga um tosto. Em compensação, o Banco de Portugal, dá-lhe 3 por cento por cada parecer – mesmo que a peça não seja adquirida. Mas quem o vir, naquele jeito maltrapilho de trajar, naquela figura desleixada, os olhos azuis que sorriem mais que o rosto, desprezando a vaidade e as benesses, afirmando que é de direita mesmo que isso custe ao Corregedor que diz invariavelmente no remate de uma discussão “vou deixar de falar a este gajo”, ninguém dirá que está ali alguém com cultura e quase obsessão pela história, que a gratifica com uma memória fiável a um ponto que não há hesitação, dúvida, quando despeja datas, nomes, escolas, correntes filosóficas. O Virgílio que foi professor na Escola de Belas Artes, dizia-me há tempos que tem aprendido muito com ele e ainda que o João Corregedor não suporte ter por perto gente de direita, nunca se afasta dele porque o Irmão é na realidade um dicionário fácil e simpático de consultar. Para mim são ambos bons amigos.