segunda-feira, abril 17, 2017

Segunda, 17.

Nenhum dos canais televisivos transmitiu este ano a Via-Sacra de Roma privando assim os espectadores católicos de participar num acontecimento marcante das suas vidas. Eu sei que o Papa Francisco diz o que tem a dizer e fá-lo com voz clara que chega aos ouvidos dos dirigentes mundiais com a mesma força da palavra dos escritores que restam enquanto tal, quero dizer, independentes e utilizando a escrita não para adormecer os leitores, mas para os alertar das suas responsabilidades participativas num mundo onde tudo é baralhado para retornar sem alteração. Talvez este procedimento, advenha das normas do nosso Judas - a União Europeia. De facto, não tem muito tempo, que Bruxelas se imiscuiu – sob a bandeira da neutralidade religiosa – na crença de cada europeu, sem considerar as nossas tradições e raízes cristãs. Estado para um lado, religião para o outro. É esta a normativa imposta pela Comissão, pensando que deste modo atrai ao convivo republicado e laico muçulmanos, judeus, xintoístas, hinduístas e passo. A esses sabichões, não lhes ocorre pensar que o mundo sendo vasto, nele professam tantas religiões quantos os povos e que estes não querem por razões milenares esvaziar de sentido as suas existências. E têm razão. O mundo não pode ser uniforme e é na diversidade que ele é habitável. O tempo da expansão religiosa e cultural acabou. A consciência humana é hoje capaz de melhores escolhas e não são precisas guerras santas para conquistar os corações. Assim como não é pelo medo que se devem implementar acções que radicalizam ainda mais, criam violência e atemorizam os crédulos. Pelo menos nestes dois últimos séculos, a religião foi em grande medida a terra de entendimento e convívio fraterno entre os povos. Por isso, o veredicto de UE sobre os símbolos religiosos é inadmissível, porque foi a fórmula mais fácil de resolver o problema causado pela abertura das fronteiras e a montante a escandalosa situação que hoje varre o mundo onde nele está criminosamente cavado o fosso entre ricos e pobres. A globalização dos negócios e das empresas, apenas veio tornar ainda mais ricos os ricos e mais pobres os pobres, para além de fomentar a anarquia financeira que beneficiou o grande capital. Por um simples e impositivo decreto, Bruxelas que não tem nada para fazer de importante, erradicou a cruz dos cristãos, o véu dos islâmicos, o quipá dos judeus. A raiz principal da Europa judaico-cristã, da arte e da construção das maravilhosas catedrais góticas, românicas, bizantinas ou renascentistas que nos caracterizam e profundamente nos tocam, que por elas viajamos e são o fio condutor da nossa identidade, de onde a vida partiu em fluxos de beleza e santificação, solidariedade e consonância, são coisas que nada dizem aos nossos deputados analfabetos que as carimbam de alienações. No fundo, pendurados nas estatísticas que dizem que menos de metade dos europeus forçados ao suplício da União Europeia, não são praticantes. Pois é. Felizmente, por muitas leis, decretos, ordens, tribunais, imposições e falatório inútil os corruptos eurocratas não conseguem penetrar no âmago, no íntimo de cada europeu, no mistério que cada um de nós guarda dentro de si. Vou contar uma história passada recentemente quando me juntei num bar com meia-dúzia de amigos, entre eles o João Corregedor, marxista e homem de esquerda. Um deles, cabeça baralhada, dizendo-se católico acrescentava “com a morte tudo acaba”. Eu interferi alegando que ele estava a ignorar um dos pilares fundamentais da religião que professa o da Ressurreição, e adiantei: “À medida que envelhecemos, Deus prepara-nos para a morte.” Reparei nesse momento que João contraiu o semblante e olhou-me do fundo de algo que nenhum de nós ousou pronunciar, mas que ambos sabíamos perfeitamente identificar...