Segunda,
17.
Nenhum
dos canais televisivos transmitiu este ano a Via-Sacra de Roma privando assim
os espectadores católicos de participar num acontecimento marcante das suas
vidas. Eu sei que o Papa Francisco diz o que tem a dizer e fá-lo com voz clara
que chega aos ouvidos dos dirigentes mundiais com a mesma força da palavra dos
escritores que restam enquanto tal, quero dizer, independentes e utilizando a
escrita não para adormecer os leitores, mas para os alertar das suas
responsabilidades participativas num mundo onde tudo é baralhado para retornar
sem alteração. Talvez este procedimento, advenha das normas do nosso Judas - a
União Europeia. De facto, não tem muito tempo, que Bruxelas se imiscuiu – sob a
bandeira da neutralidade religiosa – na crença de cada europeu, sem considerar
as nossas tradições e raízes cristãs. Estado para um lado, religião para o outro.
É esta a normativa imposta pela Comissão, pensando que deste modo atrai ao
convivo republicado e laico muçulmanos, judeus, xintoístas, hinduístas e passo.
A esses sabichões, não lhes ocorre pensar que o mundo sendo vasto, nele
professam tantas religiões quantos os povos e que estes não querem por razões
milenares esvaziar de sentido as suas existências. E têm razão. O mundo não
pode ser uniforme e é na diversidade que ele é habitável. O tempo da expansão
religiosa e cultural acabou. A consciência humana é hoje capaz de melhores
escolhas e não são precisas guerras santas para conquistar os corações. Assim
como não é pelo medo que se devem implementar acções que radicalizam ainda
mais, criam violência e atemorizam os crédulos. Pelo menos nestes dois últimos
séculos, a religião foi em grande medida a terra de entendimento e convívio
fraterno entre os povos. Por isso, o veredicto de UE sobre os símbolos
religiosos é inadmissível, porque foi a fórmula mais fácil de resolver o
problema causado pela abertura das fronteiras e a montante a escandalosa situação
que hoje varre o mundo onde nele está criminosamente cavado o fosso entre ricos
e pobres. A globalização dos negócios e das empresas, apenas veio tornar ainda
mais ricos os ricos e mais pobres os pobres, para além de fomentar a anarquia
financeira que beneficiou o grande capital. Por um simples e impositivo
decreto, Bruxelas que não tem nada para fazer de importante, erradicou a cruz
dos cristãos, o véu dos islâmicos, o quipá dos judeus. A raiz principal da
Europa judaico-cristã, da arte e da construção das maravilhosas catedrais
góticas, românicas, bizantinas ou renascentistas que nos caracterizam e
profundamente nos tocam, que por elas viajamos e são o fio condutor da nossa
identidade, de onde a vida partiu em fluxos de beleza e santificação, solidariedade
e consonância, são coisas que nada dizem aos nossos deputados analfabetos que as
carimbam de alienações. No fundo, pendurados nas estatísticas que dizem que
menos de metade dos europeus forçados ao suplício da União Europeia, não são
praticantes. Pois é. Felizmente, por muitas leis, decretos, ordens, tribunais,
imposições e falatório inútil os corruptos eurocratas não conseguem penetrar no
âmago, no íntimo de cada europeu, no mistério que cada um de nós guarda dentro
de si. Vou contar uma história passada recentemente quando me juntei num bar
com meia-dúzia de amigos, entre eles o João Corregedor, marxista e homem de
esquerda. Um deles, cabeça baralhada, dizendo-se católico acrescentava “com a
morte tudo acaba”. Eu interferi alegando que ele estava a ignorar um dos pilares
fundamentais da religião que professa o da Ressurreição, e adiantei: “À medida
que envelhecemos, Deus prepara-nos para a morte.” Reparei nesse momento que
João contraiu o semblante e olhou-me do fundo de algo que nenhum de nós ousou
pronunciar, mas que ambos sabíamos perfeitamente identificar...