terça-feira, agosto 04, 2015

Terça, 4.

Não obstante a humilhação, a violência, o terem enfrentado a morte por mares e jangadas de medos crianças, mulheres e homens, empreenderam uma viagem terrível até ao campo de ninguém apelidado A Selva, onde dormem ao relento, comem quando alguém lhes estende uma côdea, enfrentam os guardas que os enxotam como moscas, afoitam-se por todos os meios qual deles o mais sinistro, para concluírem a viagem do outro lado do Canal da Mancha onde sonham encontrar o El Dorado das suas existências. Vivem em tendas cheias de buracos, à borda do caminho de ferro, sem higiene, condições dignas, cheios de fome, mas há algo que não dispensam e todos juntos edificaram: uma pequena capela feita de tábuas pintadas de branco, no meio do descampado da adversidade, onde na parte mais alta erigiram uma cruz de madeira. Deus, estou certo, chora de tristeza e emoção lágrimas de sangue. Os seus filhos mais queridos sofrem sem culpa e sem rendição.