Quarta,
5.
Fortuna
esteve aí para levar a carrinha cheia dos ramos da palmeira que eu plantei
quando aqui cheguei (foi a primeira árvore) e que o parasita que as tem dizimado aos milhares por essa Europa do Sul fora também a destruiu. Com esta
que já tinha do sopé ao cume uns cinco metros, são cinco os exemplares que
desapareceram. Restam dois com cerca de dois metros. De nada serviram os
tratamentos que fiz a todas: o bicho de aspecto e forma asquerosas, resistiu a
tudo. Com este maravilhoso exemplar, foi-se parte da alegria que aqui reinava
na forma de um entusiasmo subjacente à atmosfera dos primitivos tempos quando
descobri este lugar e me instalei. Já nos anunciam uma outra praga que devora
sem piedade as oliveiras. Arrumados os braços sem vida na furgoneta, sentámo-nos
lá fora debaixo do toldo a conversar até perto das cinco da tarde, um vinho
branco fresco e queijo de ovelha, pão de mistura e o tempo sublime a esgueirar-se
pelos fios da aragem cálida. Que prazer é viver no campo!
- Anoto o essencial. Todo o meu tempo
e esforço vai para o final do romance. Não tarda chego a Santa Cruz da Trapa,
quero dizer ao término de um trabalho de dois anos e meio muito duro. À parte
isto, depois do almoço, entro na complexa teia das aporias platónicas que José
Trindade Santos tão bem disseca – e nisto consiste nesta altura a minha vida.
- O mínimo que se pode dizer da
resposta que o coordenador do GE Risco Cardiovascular da SPC deu ao Dr. Manuel
Pinto Coelho que há duas semanas escreveu no Público o que atrás referi, é que
foi uma não resposta. Palma Reis limitou-se a generalidades com o pretexto de
defender os doentes e as pessoas que tomam medicação para o colesterol e a
diabetes, sem cuidar de rebater ponto por ponto o que disse o seu colega. Não
ponho em causa as boas intenções do coordenador da SPC, o que acho é que as
farmacêuticas lhe devem agradecer a gentileza de, sem as nomear, ter
contribuído para o status quo da
classe médica que a indústria do ramo gere com astúcia e muitas vezes com
perversão.