Domingo, 23.
A Igreja desde a Idade Média fez da
remissão dos pecados o passaporte para a vida eterna redentora, para a salvação.
Que pecados? Os dos sexo que são a base da sua doutrina capital. Quem pecasse
por adultério, homossexualidade, masturbação teria uma morte assustadora e um
fim nas profundezas do inferno. A igreja de S. Francisco no Porto, é disso o
paradigma que assusta, afasta os espíritos menos pensantes, deposita nas
consciências o pavor tenebroso de Deus. A tudo isto ela juntava, junta ainda
embora noutra dimensão, o castigo e o sofrimento atroz, sem os quais a alma não
se salvará, como se do outro lado nos esperasse Deus o juiz vingativo. Séculos
foram corridos sob a batuta de uma instituição todo poderosa, que dispôs do
destino da humanidade a seu bel contendo, esmagando-a e humilhando-a no
pressuposto de um Além feliz. A vida na terra é uma passagem que deve ser vivida
na subjugação de normas sinistras que a tornam já de si num inferno. Ajudar a
humanidade a ser livre, a pensar pela sua cabeça, a entregar o coração ao largo
da alegria e da felicidade, é recusar a salvação e entregar o destino ao abismo,
apregoavam. Donne dizia que “todos devemos uma morte a Deus”. Eu estou do lado
de Newman: Me and my Creator. E
acredito que há mortes serenas, tendo a ver com o modo como vivemos e encaramos com naturalidade um fim que desde a nascença estava destinado a morrer ou a
prosseguir noutra dimensão. A tortura da Cruz foi a opção de Deus por nós, para
que fôssemos felizes na terra por ele criada para a nossa bem-aventurança. Um
puro e sublime acto de Amor.