Domingo,16.
O jornal Público traz um longo artigo
sobre aquilo que define (à falta de palavras portuguesas ou a saloiice não as
conhece) por slow movement. No fundo
é o desejo de ir contra a corrente do movimento desesperado dos que têm medo de
ficar para trás ou não sejam reconhecidos por dinâmicos. Eu dirigi muita gente
quando estava no activo e percebi cedo que não são os que mais esbracejam que
trabalham e produzem mais e melhor. Fui e sou adepto da adopção do tempo como
elemento de produção e criação, gozo e fruição de cada instante, embora nem
sempre aqueles que produzem depressa sejam maus. Há um ditado que diz: depressa
e bem não há quem. Todavia, o conhecimento precisa de tempo, a pesquisa também,
a ciência não pode separar-se dele. Dito isto, conheço muita gente que diz não
ter tempo para os outros – família, amigos, doentes, velhos – porque tem muito
trabalho e o tempo absorvido nele. É uma fanfarrice. Pertencem ao número dos
que pouco fazem ou andam enredados em mesquinhos afazeres que são tolices de
medíocres. Chegados a velhos, para terem a sensação que a idade não lhes bate à
porta e o dinamismo não abranda, prosseguem na teoria da falta de tempo e
estendem as voltas com os netos e os filhos pelo bairro onde vivem como tese para
iludir o bacoco que sempre morou neles. Conheço-os de ginjeira. São de fugir
inchados de importância, pacóvios perdidos numa ideia errada que têm de si
próprios. No fundo e à superfície, o tempo é gasto na perseguição da riqueza,
das honrarias, das relações supérfluas, na sabujice de uma vida que nunca conheceu
o real proveito e sentido porque vivida num vazio incomensurável e triste.
- O bajulador é o primeiro traidor.