terça-feira, novembro 04, 2025

Terça, 4.

Vivemos numa batalha constante, numa guerra sem fim para a qual não demos o nosso aval. Aquela criatura que fala um português de chinelo, a quem os médicos entregaram os seus interesses, sempre esganiçada, marimbando-se para os desastres dos clínicos, serviços, direcções administrativas, que a corajosa Ministra da Saúde tem enfrentado desarrumando conluios, negócios, lembrando a uns e outros os deveres deontológicos de uma profissão que não se coaduna com o mero funcionário público, num confronto hercúleo que decerto vai perder muito embora haja da parte do PS algum bom-senso e da ex-ministra da pasta, Marta Temido, até o aviso que a coisa lá não vai com o despedimento da actual executiva, mesmo assim, o vozeirão da extrema-direita e da extrema-esquerda (como eles se entendem tão bem!) não desarma enquanto não virem uma pessoa competente e corajosa fora do barco do poder. Quem vai perder com todo este ódio somos todos nós, povo trabalhador e ordeiro, que necessitamos de ter saúde para encarar esta gentalha que nos saiu na lotaria da democracia. 

         - Outro dia, necessitando com urgência de um café, entrei num estabelecimento da Rua Alexandre Herculano chamado Copenhagen Coffee Lab. Pedi a bica ao balcão e ao balcão paguei em antecipação. “Um euro e cinquenta” diz-me a rapariga que me atendeu. “Será que estou em Paris ou Piccadilly Circus?” Ela exibindo um ar profissional: “Nós só temos café de lotes escolhidos topos de gama estrangeiros.” Tomada a bebida, chamei a empregada e disse-lhe que fosse enganar quem quisesse, mas aquele café era uma zurrapa, uma chicória inqualificável.” “Não temos culpa que não conheça os bons cafés.” “Talvez, respondi, mas estúpido é que não sou nem saloio.” E debandei, apressado. Estamos assim, somos isto. Mas não somos piores nem melhores do que sempre fomos, apenas, com tantos estrangeiros entre nós, ganhámos a impressão que somos superiores. As formigas com catarro, hoje são aos milhares. 

         - O anjo da guarda de serviço a esta pobre criatura, apresenta-se sem que eu o solicite provando que me vigia sem descanso. Assim, ontem, não pude arredar pé porque a bateria que tinha sido posta há um ano, pifou. Vai daí chamei o Sr. Oleh que prontamente apareceu com um ajudante e montou outra pela módica quantia de 30 euros. Tenho absoluta confiança nele, não só porque é ucraniano, ainda porque é honesto e competente como são todos os da sua origem que por aqui passaram. 

         - Depois do almoço reclinei-me na chaise longue para um soninho simpático. Antes tinha feito uma hora de natação sem parar, e daí que este corpinho esbelto tenha sentido atracção pelo descanso. Todavia, ao mergulhar no rio do sono, outro me esperava atendendo ao clima invernoso idêntico ao de Cambrai. Assim, fui embalado nas memórias dos invernos em casa da Annie, estendido no divã do salão escutando a melodia da chuva a bater na janela, a par da voz da minha amiga na cozinha, fui remando rio abaixo na consolação das lembranças que me guiaram ao doce conforto do repouso.