quinta-feira, novembro 06, 2025

Quinta, 6.

O tempo melhorou consideravelmente. Ontem, mal tinha saído do comboio e me preparava para pegar no carro de regresso a casa, caiu uma tal carga de água e relâmpagos que me susteve por um tempo na estação. Assim que abrandou um pouco, ao volante, de novo chuva e vento fortes que me deixaram paralisado ao portão à espera que abrandasse. O pobre do Black esperava-me cheio de fome, era já noite, e ele miava sem perceber a razão que me levara a não deixar a viatura. Uma hora antes, na desordem que é hoje Lisboa e as suas estruturas urbanas, fiquei preso no metro mais de meia hora e para alcançar o fertagus, tive que tomar um táxi, atravessar a cidade e embarcar na Avenida de Roma. Centenas de passageiros nas gares, nenhuma razão apresentada pelo Metro. As pessoas não contam para nada na democracia de hoje.   

         - A EDP vai, enfim, ter de pagar mais de 300 milhões de impostos pela venda de seis barragens, em 2020. Esperta, tentou escapar, criando o artifício de reestruturação empresarial através de uma cisão de empresas. Deixa cá ver se me lembro quem estava a dirigir o país no ano desse negócio chorudo. Quem era, quem era, ah, pois claro era o tal que adora a vidinha airada em Bruxelas e pavonear-se pelo mundo inteiro. Chut, não se fala em nomes, não se pessoaliza ninguém. Deixei-me, todavia, por uma vez, elogiar a menina do BE, de seu nome querido Mariana Mortágua, que se insurgiu no Parlamento contra a atitude que prejudicava não só o erário público como as autarquias em favor dos acionistas. 

         - Os nossos queridos comentadores. Como poderíamos nós viver sem eles, sem a luz que dimana das suas límpidas teses, dos subterfúgios que utilizam, da sabedoria que reina sobre a maior neutralidade. Agora, sem darmos por isso, há uma nova geração que está a abancar pelos canais televisivos. Coitados, são a raiz da sua precedente, sem tirar nem pôr. Lá para trás, na nuca daquelas cabeças doiradas, abriga-se um sopro que ao oxigenar o interior, ver-te a mesma comoção, os mesmos significados, os mesmos qualificativos, ipsis verbis, que ouvimos durante décadas e deles nos enfastiámos até à raiz dos cabelos. Servem patrões escondidos, que lhes alimentam o ego e a conta bancária, oferecem o corpinho e a carita laroca à imagem perturbada pela palavra que não sai ao seu jeito e se embrulha na desfaçatez. Para eles os 6 por cento que somam o BE e o Livre são mais importantes e decidem do nosso destino que todo o fantasmagórico lote de partidos. 

         - Terríveis e dolorosas imagens que nos chegam dos confrontos no Sudão. Quem acode àqueles infelizes, estando o mundo inteiro inquieto com a guerra que pode rebentar a qualquer momento. Não há olhos, nem misericórdia para os infelizes que morrem como tordos desde 2023 na disputa do poder pelas duas facções rivais: as milícias tribais e Forças Armadas do Sudão, lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan.

         - As rajadas de vento que por aqui passaram, atapetaram o chão de azeitonas pretas.