terça-feira, novembro 11, 2025

Terça, 11.

Ontem estive em Lisboa e fui à livraria francesa encomendar o volume 4 Toute Ma Vie de Julien Green. Fiz o percurso a pé entre o Corte Inglês e a rua onde viveu o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho e voltei. Caminhada difícil devido a dores incapacitantes nos lombares. Almocei no restaurante panorâmico da loja e fiquei um bom bocado a saborear os instantes de paz que se seguiram. Havia pouca gente em todo o edifício, andar por andar, e nem fila para o restaurante coisa rara. A crise vai-se intensificando por todo o lado e estou convencido que crescerá no próximo ano com as consequências mundiais dramáticas em construção. 

         - Na ida, não tendo tido tempo para tomar café em casa, optei pelo pequeno comptoir da estação de Sete Rios. Quando me perfilei para encomendar o café, abeirou-se de mim um homem pelos trinta anos. Pensei que queria uma moeda, mas ele disse-me que não, que tinha fome, se eu lhe pagava qualquer coisa para comer. Frente à caixa perguntei-lhe o que queria, ele respondeu um pão de Deus. “E para tonar?” “Pode-me pagar um galão?”, disse com tal dignidade e doçura que senti a comoção a descontrolar-me. Quando ia a sair  tomado o café, ele diz-me em jeito de deus: “Deus lhe pague.” Portugal, o seu 25 de Abril, a sua democracia não encontrou em 50 anos este e tantos outros nossos irmãos que vivem num mundo esquecidos no fosso da indignidade. Os políticos do buraco do Parlamento ou das catacumbas das sedes dos partidos, não têm tempo para chegar à janela e ver o resultado das suas políticas. 

         - A justiça. Será que ainda existe, aqui e por essa Europa fora? Não, claro. Ou sim, mas sob a forma vergonhosa que expõe os veredictos favorecendo uns e outros segundo as suas influências e interesses, isto é, sem verdadeira justiça nem independência. O caso José Sócrates, é a vergonha mais palpável da sua ineficácia e incapacidade para julgar um ladrão que possui dinheiro para a fazer rabiar até conseguir a inocência ultrapassando os prazos legais para os julgamentos. Como o caso “Operação Influencer” que desde Novembro de 2023 ficou estacionado em qualquer apeadeiro do Ministério Público e onde António Costa consta. Ele que mandou aumentar os juízes em 700 euros mês, na convicção que assim seriam mais breves e honestos nas suas decisões. Bref.

         - Contudo, o descrédito nos tribunais, atinge também os povos da União Europeia. O caso Sarkosy é disso prova. Os cinco anos a que fora condenado com prisão firme, passaram depressa e ele já se encontra em liberdade, deixando para trás a sua célula de luxo, com todo o conforto de um quarto de hotel. É mais uma vergonha a significar que os poderosos têm a consolação não só dos seus crimes, como a fortuna da liberdade. As prisões estão a  abarrotar de “criminosos” que roubaram uma laranja aqui, um cogumelo ali, um automóvel nesta rua, uma carteira sem dinheiro do infeliz mais além. 

         - Fui à piscina. Hora e meia de natação, devolveu-me a agilidade que ontem me faltou e fez desaparecer as dores que me incomodavam. Fujo como o diabo da cruz dos medicamentos. Só os tomo quando estou num estado absoluto de incapacidade à dor e à vida tout court.