sexta-feira, novembro 21, 2025

Sexta, 21

Estou de regresso. E para enterrar ainda mais a Ministra da Saúde a quem se deve todos os males de que enferma o SNS. Mesmo este que soubemos há dias. Ou antes, mais este. Médicos do serviço de Dermatologia receberam para cima de 200 mil euros entre 2024 e 2025 utilizando os métodos do costume. Afinal, bem vistas as coisas, dinheiro não falta, o que falta é honestidade, fiscalização e deontologia de que certos clínicos, pelos vistos, carecem. Mas ninguém dos sindicatos e das associações que os protege se chegou à frente para, pelo menos, lamentar. 

         - Outra tragédia de corrupção que não sei como classificar, ocorreu em Cortegaça, numa USF, onde uma trapaça gravíssima praticada pelas funcionárias ao legalizarem de forma fraudulenta no SNS pelo menos 10 mil imigrantes do Brasil, Paquistão, Índia, Argélia, Bangladesh e passo, abalroando o já decrépito sistema de saúde. Não contentes, ainda lhes passaram o Carão de Saúde que lhes permite terem internamentos e consultas, operações e medicamentos gratuitos nos países europeus. Conclusão: uma boa parte já abandonou Portugal e distribuiu-se pelos países da UE. Quem em primeiro ganhou com este escândalo, foram as redes criminosas que chupam ao imigrante o que ele tem e não tem. Quanto às funcionárias, foram detidas e logo libertadas. 

         - Falei dos nossos queridíssimos médicos tarefeiros. Pois bem. De repente, num volte face que só eles sabem a origem mas eu suspeito, querem negociar com a ministra. Ponto final nas greves que paralisavam as urgências, nos custos à hora, nos raios e coriscos; agora, de súbito, o que almejam é integrar o Serviço Nacional de Saúde! E esta, hein! Daqui se depreende o extraordinário trabalho de organização, de combate ao desperdício, reestruturação das unidades hospitalares, de fiscalização à fraude, da batalha à dignidade dos cidadãos, do interesse em manter o SNS sadio e ao serviço da comunidade. A esquerda, confrontada com o excelente labor da ministra, diz que o Governo quer acabar com a maior conquista do 25 de Abril. Esta gente, nem se deu conta que a modernidade e evolução das situações está a acontecer diante dos nossos olhos – permanecem ainda no obscurantismo fascista.

         - Daí as greves como arma de arremesso. Hoje foi dia delas sendo fim-de-semana. A Intersindical, com os seus suponho nem 5% de associados, subordina dois milhões de trabalhadores que são os que sofrem com os seus luxos de duplos fins-de-semana de lazer. Nunca a revisão do direito à greve foi tão urgente, de modo a dar sentido a uma arma que não deve ser manobrada por partidos ideologicamente minoritários. 

         - Ontem, quando passei no número 77 da Rua Pinheiro Chagas, no prédio onde viveu o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho, parei para murmurar um Padre Nosso em sua intenção. O Joaquim, vendo-me imóvel, incentivou-me a prosseguir caminho. Não tive coragem de lhe contar a razão daquele compasso de espera. 

         - Ao serão de ontem, acesa a lareira, desligado o televisor depois das notícias da SIC, mergulhei no Diário póstumo de Julien Green. Momentos indizíveis. Li 20 páginas naquele corpo de letra pequeno, impresso sobre folha de bíblia, de que os meus olhos sofreram sem pestanejar. Mas não vou continuar neste desassossego; tentarei saborear linha a linha, pensando e repensando em tudo o que me passa debaixo dos olhos, permanecendo com o meu autor o máximo tempo de modo a percorrer o amplo e precioso volume com vagar. Logo nas primeiras páginas, não obstante os 60 anos, Green prossegue a luta entre aflições emergentes sexuais que ele entende desagradam a Deus. São Paulo desgraçou-nos a vida com as suas obsessões carnais. A Igreja de hoje tende a afastar o pecado do amor e a reintegrar o prazer do sexo como qualquer outro arbítrio de Deus. Eu percebo que este é o drama de qualquer homossexual cristão e foi o dele que declinou o prazer de olhos postos em Jesus Cristo.  “Peccato di carne non è peccato” dizia o padre Bruno de Jesus-Maria. 

         - Faz frio. Vou acender a lareira, fechar as portadas e meditar diante do fogo.