quarta-feira, novembro 12, 2025

Quarta, 12.

Dos finais do século passado até ao presente, a emancipação das mulheres foi o facto mais impressionante que aconteceu e para o qual poucos homens estavam preparados. Daí que cada vez mais eles se espantem, depois tentem domá-las e por fim agredi-las e matá-las. Entre nós e por todo o mundo, as estatísticas falam por si. E no entanto, pensando bem, pergunto-me se não está por detrás de tudo isto a imposição moral e cívica que nos remete obrigatoriamente para o matrimónio, ainda que nem todos, elas e eles, estejam vocacionados para tal. In illo tempore, acreditava-se que o casamento pela Igreja era a forma de o conservar para a vida, porque abençoado por Deus. Nestes tempos em que o Criador foi substituído pela ganância e o dinheiro, é lícito inquirir se uma tal norma deve continuar independentemente de o amor e o sexo inicial estarem mortos e enterrados e nem a amizade pura subsistir. Claro que para o Estado é verdadeiramente importante que ele continue, pois é sempre mais difícil dominar um solitário que o conjunto de duas pessoas que seja. Antes, nos tempos do namoro, a Igreja impedia qualquer contacto sexual, hoje o namoro segue direito à cama e é a partir daí que se vê se a coisa tem pernas para andar... Talvez estejamos ainda numa fase de adaptação a novos moldes de vida a dois e daí, muitas vezes, assistirmos ao exagero das mulheres em muitos pontos íntimos e sociais. Contudo, para mim a formulação tem razão de existir porque a natureza humana está antes de todas as normas e conceitos e perdura sobre tudo e todos.

Decerto, foi desde que a mulher se autodefiniu e adquiriu liberdade e identidade próprias, que os homens, quero dizer os jovens de hoje, começam a sentir o seu território de domínio e subjeção a definir-se. Por isso, há alguns dias, uma rapariga contou-me aspectos que me surpreenderam. Disse-me ela que nas redes sociais transfundam as teorias mais estapafúrdias que se possa imaginar e a que os meninos aderem com convicção.  Querem eles recuperar o domínio sobre a mulher, gostariam de traçar a imagem da futura mulher, de modo a que só a cada um pertencesse o gosto, a elegância, os modos de olhar, o aspecto corporal e por aí fora. Por exemplo, segundo a minha conhecida, os jovens estão a impor a gordura e os lábios grossos que elas conseguem obter com a ajuda de esteticistas, baralhando o que até aqui se definia por beleza e saúde, elegância e arte. Na realidade, olhando bem, vemos cada vez mais jovens anafadas, de grandes olhos pintados, ar apalermado, e quando de mão dada com o seu mais que tudo, orgulhosas e abocanhadas – são a versão dos pantomineiros tempos modernos.  

         - Recep Tayyip Erdogan emitiu mandados de prisão por genocídio contra o primeiro-ministro Netanyahu e seus ministros, relacionados com a guerra em Gaza. Foi mais corajoso que todos os seus congéneres europeus. 

         - Hoje o temporal trouxe consigo o frio que se instala a pouco e pouco por toda a casa. Tendo estado largas horas a trabalhar à secretaria, outro remédio não tive que acender o calorífero a gás que tenho naquele espaço do salão. Em breve será a lareira e com ela a aceitação do Inverno. 

         - Forma de falar. Em verdade, longe vão os anos em que me levantava cedo e me enfiava numa roda-viva de afazeres. Agora não me ergo da cama antes das oito e às vezes mais tarde. Durmo contínuo e sabe-me bem o conforto do quarto, o silêncio que nele enaltece sobre todos os outros cantos da casa. Por vezes, as auroras trazem todas as frustrações, as hesitações, os supostos falhanços e a cabeça rodopia sem descanso e o terror desce obrigando-me a deixar aquele reduto maravilhoso que me embala na doce ternura das noites serenas e restauradoras.